11 janeiro 2010

Bom dia, Antonio Carlos Duques

Desfaça-se!

Desfaça-se das singulares portas fechadas, primeiras pessoas,
Do amor conforme de vacas tranqüilas a pastar inclemências,
Dos sítios de pedras brancas, inferno frio, selva de medos.
Desfaça-se do sono da paz negra, bens, bens, bens,
Os bens! Quantos bens! Mais bens!
Desfaça-se!

Desfaça-se do título obscuro, universo morto, insepulto,
Paredes do si-mesmo, moldura carnal rígida,
Desfaça-se dos braços fechados, punhos de metal,
Caminhos de círculos eternos, visão de linhas retas,
Punhos de metal! Quantos punhos de metal! Mais punhos de metal!
Desfaça-se!

Desfaça-se dos mesmos, dos sempre, dos nunca,
Das alegrias dolorosas, das lágrimas prazerosas,
Desfaça-se do único matiz, da única nota,
Das dolorosas obrigações matrimoniais, patrimoniais.
Da única nota! Que única nota! Uma nota só!
Desfaça-se!

Desfaça-se das verdades mesquinhas, da esquina vazia,
Das pátrias sem amor de meninos, de meninos sem amor das pátrias.
Das trilhas e mapas corriqueiros, e que assim não seja,
Desfaça-se das fórmulas cansadas, cansadas e milenares,
Das fórmulas cansadas! Quantas fórmulas cansadas! Cansaço!
Desfaça-se!

Desfaça-se da autoridade mesquinha confinadora,
Crenças indeléveis, pútridas, futuro é o passado sem revisão!
Da palmatória psicológica a produzir lágrimas e sangue,
Aos meninos de rua, aos meninos sem ruas, todos são livres!
Desfaça-se das burkas mentais, ansiedades sem limites,
Desfaça-se!

Que haja um só nunca. Que nunca mais seja.
Conforme foi teu louco apego, tudo é linguagem!
Matar as linguagens, está em tuas mãos, sempre esteve aqui.
Nascerão as rosas do verão, primavera quieta, e não antes,
Desfaça-se! Desfaça-se! Desfaça-se!
(Homenagem a Bjork, Hakim Bey, David Laing, Thomas Hanna, Michel Foucaut, Salvador Dali, Aleister Crowley).

Um comentário:

Soldadonofront disse...

Muito bom.

Luciano Siqueira é um G-R-A-N-D-E brasileiro.