Um segmento do eleitorado que pode ser decisivo
Luciano Siqueira
Do ponto de vista científico, uma classificação que carece de consistência; serve, sim, entretanto, para fins mercadológicos e, em boa medida, político-eleitorais. Refiro-me à segmentação da população em “classes” A, B, C, D e E, fundada no cruzamento de níveis de renda e de escolaridade.
Classe social é um conceito que ao longo do tempo tem merecido muito estudo e igual dose de polêmica, sob prisma marxista e também de outras correntes de pensamento. Com as mudanças contemporâneas no mundo do trabalho é tema que enseja inclusive considerações de ordem teórica e política no que diz respeito ao perfil atual do proletariado e ao alcance de sua influência na vanguarda do movimento transformador.
Sem ir muito longe, cabe observar atentamente as transformações no perfil das classes sociais em Pernambuco, no bojo do ciclo atual de crescimento econômico e de mutações em sua base produtiva. O que acontece em Suape e se espraia por boa parte do nosso território implica numa variável nova de importantes repercussões para a luta social em médio e longo prazo – o surgimento de uma camada de trabalhadores assalariados empregada em setores industriais e de serviços modernos, capacitados tecnicamente e com grau de escolaridade elevado (para os nossos padrões tradicionais).
Mas voltemos ao padrão de análise baseado na segmentação de “classes” de A e E. Agora para especular sobre o provável comportamento do eleitorado nas eleições gerais de outubro e o peso específico da chamada “classe” C.
Indicam pesquisas quantitativas e qualitativas que esse segmento – que corresponde a aproximadamente 49% dos eleitores – tem uma influência marcante sobre o comportamento dos segmentos D e E. Mesmo que não tenha presença efetiva na campanha eleitoral nos moldes convencionais. Trata-se do cidadão ou cidadã que detém emprego fixo ou desfruta de pequenos e médios empreendimentos e possui renda que lhe possibilita razoável conforto familiar. Comporta-se via de regra com cautela: deseja melhorar de vida, mas teme bruscas mudanças de rumo na economia e no ambiente político.
Esse segmento teve papel destacado na formação do ambiente eleitoral favorável à primeira eleição de Lula, em 2002, e também na reeleição do presidente em 2006. No ocaso dos dois governos consecutivos de Fernando Henrique Cardoso e da exaustão das políticas neoliberais, em 2002, a “classe” C, duramente atingida, objetivamente necessitava a mudança. Em 2006, beneficiada pela alteração de rumos do País, quis a continuidade, receando um retorno à situação anterior.
Aí residiria o drama da candidatura de José Serra. Em 2002, quando enfrentou Lula e perdeu, o tucano simbolizava a continuidade – e a maioria do eleitorado queria mudar. Agora, por mais que tente fugir disso, representa a mudança – e a maioria do eleitorado (sentindo-se beneficiada pelas ações do governo atual) quer a continuidade. Sentimento cristalizado justamente no segmento C, com enorme potencial de influência sobre os segmentos D e E. A conferir.
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