Há tempo pra tudo, mas nem sempre
Luciano Siqueira
Sempre é tempo – para amar, para retornar aos bancos escolares, para corrigir erros e tudo o que se possa imaginar e viver na vida. Nossa relação com a variável tempo é quase um fetiche.
“O tempo é o senhor da razão”, dizemos todos quando desejamos amadurecer uma idéia ou gestar condições para solucionar determinado problema.
Mas nem sempre as coisas funcionam assim. Na luta política, por exemplo – em especial em disputas eleitorais em torno de cargos majoritários. Há o tempo da formatação de um projeto e o tempo de sua execução. A experiência demonstra que quando se começa errado dificilmente há tempo hábil para corrigir o erro.
Creio que esta é, concretamente, uma ameaça que paira agora sobre a candidatura de José Serra à presidência da República, pelo PSDB. O ex-governador de São Paulo padece de uma dificuldade congênita que é o posicionamento político. Como bem assinalou outro dia Marcos Coimbra, do Instituto Vox Populi, em 2002 Serra se apresentava como continuidade da era FHC quando a maioria da população tendia à mudança. Agora se vê aprisionado na teia oposicionista quando o ambiente é plenamente favorável à continuidade do projeto político-administrativo liderado pelo presidente Lula.
Daí porque o candidato tucano iniciou a pré-campanha praticamente se recusando ao papel de oposicionista, afirmando que daria continuidade a políticas públicas essenciais do atual governo, para as quais estaria melhor preparado como gestor. “Lula está acima do bem e do mal”, chegou a dizer em visita recente ao Recife, para desgosto do candidato a governador que lhe dá palanque aqui, Jarbas Vasconcelos, para quem Lula é a própria encarnação do Satanás.
Serra assim procedia certamente orientado por pesquisas quantitativas e qualitativas e por recomendações de marqueteiros. E sob o estímulo de colunistas políticos que afirmavam, quase em uníssono, que a partir do instante em que a sua candidatura se confirmasse, a tendência natural seria distanciar-se da ex-ministra Dilma nas pesquisas.
Mas aconteceu tudo ao contrário. Pelo menos em três sondagens recentes – Vox Populi, CNT-Sensus e Datafolha – verificou-se empate técnico na corrida presidencial, com ligeira vantagem para a ex-ministra. Com o agravante de que a candidata do PT cresce de modo consistente em todas as camadas sociais e em todas as regiões do País, denotando, assim, uma tendência consistente a um posicionamento da maioria dos eleitores em favor da continuidade.
Como reage Serra? Alterando o conteúdo e o tom do discurso, agora procurando se afirmar como oposicionista – como aconteceu ontem no encontro com os três candidatos à presidência patrocinado pela CNI. Dará certo? Há tempo para essa mudança de rumo?
Não é fácil, pois a tendência à continuidade é fruto de um conjunto de variáveis em relação às quais a candidatura tucana está mal posicionada. Talvez ao invés de “sempre é tempo para mudar”, prevaleça outro adágio popular: “pau que nasce torto, morre torto”. É acompanhar para ver.
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