16 maio 2011

Meu artigo semanal no Blog da Revista Algomais

Brasil-China: mais um lance
Luciano Siqueira


É claro que as relações entre nações implicam contradições – e, portanto, conflitos a desafiarem a diplomacia e, em muitos casos, a capacidade de negociação nas esferas econômica e política.

Uma conquista importante do governo Lula foi o estabelecimento de relações diplomáticas e comerciais privilegiadas com a China – os dois países peças destacadas na geopolítica mundial, cada um em seu papel específico. Mas apesar de presidirem essas relações princípios justos, tais como a cooperação e o proveito mútuo, a não ingerência em assuntos internos e a realização de esforços conjuntos em prol do progresso e da paz mundial, a China não é o Brasil, o Brasil não é a China. Tanto que a assimetria entre manufaturados (que vêm de lá para cá) e produtos primários e matérias primas (que vão daqui pra lá) nos incomoda. E esteve na pauta de conversações entre Dilma e Hu Jintao, em Beijing, em abril.

Agora, em desdobramento da visita da presidenta do Brasil à China, 66 empresários chineses, liderados pelo ministro do Comércio chinês, Chen Deming, permanece entre nós até a próxima sexta-feira e realiza encontros com empresários brasileiros e autoridades governamentais, tendo como foco transações nas áreas de agricultura, energia, mineração e aviação.

Os chineses têm interesse em ampliar seus investimentos no Brasil. Os empresários brasileiros desejam melhorar nossa pauta de exportações para a China, aumentando o volume de produtos com valor agregado.

Nesse caso, como se diz comumente, uma mão lava a outra? Pode ser que sim, desde que se consiga mesclar interesses estritamente comerciais com a conjunção de esforços na esfera política no sentido de contribuírem, os dois países, no processo de transição do mundo unipolar (sob hegemonia norte-americana) para uma nova ordem, multipolar. Para tanto, não apenas interessa ao Brasil que a China prospere em sua escalada ascendente no cenário econômico mundial, como à China deve interessar o fortalecimento do Brasil como aglutinador do bloco de países do subcontinente sul-americano, apto a dialogar com os EUA e a União Europeia com altivez e capacidade negociadora.

É viável analisar as coisas sob esse prisma? Imagino que sim, pois se a política é a economia tratada em padrão elevado, a política pode interferir nas relações econômicas em nome de intenções estratégicas mutuamente benéficas.

É acompanhar e conferir.

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