28 julho 2013

A epigenética explica?

Estado de ânimo sob suspeita
Luciano Siqueira

Publicado no blog da revista Algomais

O modo de encarar a vida tem muito de subjetivo e, claro uma boa dose de realidade concreta. Feito o primo adolescente que respondeu a uma observação minha acerca do seu estado de espírito – “Você parece em dificuldades” – de modo a não deixar dúvidas: ”Pareço, não; estou!”

Então, otimismo ou pessimismo tem tudo a ver com muita coisa – sobretudo com a realidade como ela é. Mas como a ciência sempre pretende ir muito além do mundo imediato que nos cerca e da mera aparência das coisas, estuda-se sobre o pessimismo com a mesma ânsia resolutiva de quem deseja vencer o câncer.

Tim Spector, pesquisador do Hospital St Thomas, em Londres, acompanha grupo de gêmeos idênticos na tentativa de esclarecer por que algumas pessoas são mais positivas do que outras a respeito da vida. Ou seja, ele vai atrás de clarear os mistérios da formação da personalidade. E, assim, quem sabe tornar possível transformar o pessimista visceral em saltitante otimista.

Ele observou, por exemplo, gêmeas idênticas que têm tudo em comum, mas diferem frontalmente porque uma se mostra sempre entusiasmada e confiante, e a outra frequentemente se deixa afundar na depressão. A pista o pesquisador inglês diz ter encontrado na genética. Alguns genes estão presentes na irmã desanimada e ausentes na eufórica.

No que diz respeito à personalidade, a diferença entre as pessoas seria meio a meio decorrente de fatores genéticos. Mas tem um detalhe: o ambiente onde o indivíduo está objetivamente inserido influencia os genes, modificando-os parcialmente. A epigenética explica, garantem os entendidos no assunto.
A coisa é muito mais complexa do que esse breve e superficial registro, que aqui é feito por escriba absolutamente leigo no assunto. Mesmo tendo formação médica e outrora se interessado por essa coisa fantástica que é a genética.
Fica uma certeza e uma frustração. A certeza está em que a indústria de medicamentos logo cuida de se apropriar de estudos como esse e produzir drogas capazes de provocar a alteração genética necessária. É sempre assim. E não seria trágico se o acesso às tais drogas não custasse ao cidadão comum os olhos da cara – ou seu meus melhores genes, se preferirem. Inalcançável para a maioria.

A frustração é que a tal influência do ambiente não se faz da noite para o dia – leva um tempo biológico bem distante do que medimos na vida cotidiana. Por isso, por mais que a gente se esforce e que a corrente do bom humor se estenda, tem gente que teima em manter a crista baixa em qualquer situação, irradia pessimismo a torto e a direito e ainda fecha a cara por qualquer motivo. São os chatos irrecuperáveis e inacessíveis aos bons resultados da pesquisa do doutor Tim Spector. Ou estou sendo pessimista?

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