Derrota da seleção, vitória do Brasil
Aldo Rebelo*
Toda Copa do Mundo deveria ser jogada no Brasil, sugeriu Pierre Van Hooijdonk, ex-jogador da seleção, hoje na comissão técnica da Holanda. Animado com o andamento da 20.ª edição do torneio já realizado em 16 países diferentes desde 1930, estabeleceu um nexo causal generoso, mas, como ele, muita gente atribui o êxito da Copa de 2014 ao fator condicionante de se realizar no País do Futebol. Em outras palavras, o sucesso é produto do meio.
O campo verde-amarelo onde “o violento esporte bretão”, como diziam os cronistas do passado, evoluiu para coreografia artística erigida a paixão nacional, irradiou uma atmosfera mágica de encantamento dentro e fora dos estádios. O ambiente parece ter favorecido o elevado nível técnico do torneio. Amantes do futebol celebram o jogo ofensivo, a elevada média de gols, o preparo físico jamais alcançado, a excelência dos craques, o protagonismo dos goleiros.
Mesmo que ao final tenham sobrado uma seleção três vezes vice e um trio já campeão do mundo, a Copa do Brasil também consagra a equalização do futebol. A globalização do esporte, embora tão antiga quanto ele, hoje faz com que o Mundial seja disputado por 200 ligas a partir da fase de eliminatórias. O intercâmbio de jogadores e técnicos e a disponibilidade instantânea do conhecimento são fatores de equivalência entre as 32 classificadas, aproximando as outrora figurantes e a elite que passeava em campo. A Costa Rica passou por três campeões mundiais, o Irã vendeu caro a derrota mínima para a Argentina, as muitas prorrogações indicaram o nivelamento das equipes.
Como não é impróprio extrair de outras pugnas comparações com o jogo, tivemos de ostentar o fumo do luto pela derrota (fantasmagórica) da Seleção e a fanfarra (melodiosa) da vitória pelo êxito do torneio. Perdemos a Copa no campo, mas vencemos o desafio de organizá-la de forma exemplar.
Os estádios cintilam entre os melhores do planeta, portos e aeroportos acolhem e despacham os viajantes, o transporte urbano é eficiente. A segurança montada pelo governo previne incidentes, assim como vão bem os serviços de telecomunicações para transmissão do torneio ao mundo e a comunicação frenética dos torcedores. A hospitalidade do povo brasileiro desde logo forjou a base da Copa que antes de começar já era antevista como a mais alegre e transcorre em paz e contentamento.
*Aldo Rebelo é ministro do Esporte
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