16 julho 2014

Em busca da multipolaridade

Sexta Cúpula dos Brics - fazendo a história
Walter Sorrentino, no Vermelho

Passada a Copa do Mundo de Futebol, bate a lembrança de que estamos a menos de dois anos das Olimpíadas do Rio de Janeiro, que ocorrem em 2016. Não se trata de discutir se vale a pena ou não o País hospedar os jogos olímpicos. Isso é bobagem, pois é claro que valerá a pena, como já se provou em tantos países.


Mais de vinte anos passados, cumpriu-se o vaticínio: o mundo se tornou mais perigoso, instável, incubando conflitos por todos os Continentes. O poderio assimétrico deixou livres as mãos do poder financeiro, também com vértice nos EUA, que levou o mundo à pior crise capitalista desde 1929. O Oriente Médio tornou-se no que é: palestinos sendo massacrados sem reação mundial, o Iraque às voltas com um califado regressivo, também com um desmanche nacional como a Líbia, a ressurgência religiosa dividindo povos e nações, a Síria levada a uma guerra insurgente. O imperialismo produz reação em toda a escala, como se comprova.

As estratégias em curso hoje se modificam e produzirão resultados em uma ou duas décadas. Nesse âmbito, o BRICS, surgido em 2008 – mesmo ano de eclosão da crise mundial que se arrasta até hoje –, realiza sua sexta cúpula em Fortaleza. Aos seis anos, recém-constituído, pode-se dizer, é uma das forças mais marcantes desta nova realidade mundial, que alguns chamam de “segunda onda globalizante”.

A mídia nativa, eivada de preconceitos ocidentalizantes, não trata o fenômeno à altura, resumindo-se a tratar de aspectos tópicos do que está em pauta na 6ª. Cúpula, nem por isso menos importantes. É uma pauta poderosa: a criação de um Banco de Desenvolvimento próprio e o Arranjo Contingente de Reservas (CRA), a reforma Bretton Woods e das instituições multilaterais, o desenvolvimento sustentável, com inclusão social e geração de empregos, o desenvolvimento das próprias infraestruturas. Enfim, o que é chamado uma aliança para um novo modelo de desenvolvimento, para o aprimoramento da governança e representatividade global.

Claramente, em meio a um ambiente conflitivo, com tendências e contratendências atuantes, em choque, o BRICS reforça um vetor resultante, que é a tendência à multilateralidade nas relações internacionais. BRICS comparecem com 42,6% da população mundial, 45% da força de trabalho, 25% do PIB e 20% do investimento global. Em 2012, em plena crise, foram responsáveis por 56% do crescimento econômico mundial.

Mais que isso: revela a faceta mais proeminente da atual fase da globalização, que é o fortalecimento – e não a diluição – dos Estados nacionais e da formação de grandes blocos mundiais como polos de poder mundial. O Brasil estar situado nisso – bem situado, protagonista de primeira linha – associada a 4 das 5 nações do mundo com maior território, maior população e maior PIB (subtraído os EUA) –, é um dado estratégico revelador do papel que se alcançou na afirmação nacional e na defesa de nossos próprios direitos e interesses.

Na atualidade, uma forma aguda da luta de classes se dá no plano das questões nacionais – a auto-afirmação, soberania, desenvolvimento e autonomia nacionais. Desconhecer isso é não levar em conta que, para resistir de fato ao grande e concentrado poder das finanças, “que arrasta nações inteiras” à sua lógica capitalista-imperialista, nas palavras de Lênin, é preciso levar em conta as forças do povo, suas lutas, tanto quanto a força de Estados nacionais orientados de forma progressista ou revolucionária. E, com eles, estabelecer outra correlação de forças para enfrentar as contradições entre a globalização imperialista e os povos e nações que lutam por seu desenvolvimento e afirmação, ao lado da contradição social entre capital e trabalho e explorando as contradições entre os grandes blocos econômicos em suas respectivas estratégias.

Uma nova ordem mundial multipolar, democrática e progressista, representa um novo momento do sistema internacional, e se integra como parte da luta atual por um mundo novo – palavras de Severino Cabral, acadêmico da USP, na revista Princípios deste mês. Nada mais importante posso recomendar do que a leitura dessa nova revista Princípios. Com costumeira felicidade, ela é dedicada à 6ª Cúpula do Brics e tem artigos de fundo que promovem essa reflexão estratégica que mudará os destinos do mundo nos próximos 10-15 anos. Lá estão artigos do senador comunista Inácio Arruda, de membros destacados dos PCs da China, Rússia, Índia e África do Sul, em meio a análises excelentes de Ronaldo Carmona, José Carlos Assis, Cid Gomes, Alfredo Rahme e Carlos Bicalho Cozendey.

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