As duas vozes das ruas
Eleição presidencial no Brasil jamais foi tranquila – mesmo
quando se dava circunscrita aos membros do Estado Maior das Forças Armadas, na
vigência do regime militar. A tensão é a marca. Afinal, nos tempos que correm, de
exercício da democracia, trata-se de conquistar o apoio da maioria dos eleitores
para legitimar determinado projeto de nação. Não é simples, nem se faz apenas,
da parte de cada litigante, pela apresentação de suas ideias programáticas;
implica polêmica e, em certa medida, na exploração das contradições do
adversário. Sobretudo agora, no segundo turno, quando estão frente a frente
Dilma e Aécio.
A resultante disso está no debate de idéias pelos diversos
caminhos ora disponíveis – no horário eleitoral na TV e no rádio, nas
entrevistas diárias, nos debates promovidos pelas redes de TV, na internet – e
nas ruas.
Pode não ser o debate dos nossos sonhos, pois permeado por
regras restritivas – os organizados pelas redes de TV principalmente – e pela
parcialidade explícita da grande mídia. Porém muito longe do “rebaixamento” que
alguns criticam – precisamente os que perderam com Marina e se sentem ameaçadas
do perder com Aécio.
O fato é que a temperatura aumentou no confronto de projetos
diametralmente opostos e, pouco a pouco, foi assumindo lugar na cena, a
disseminação do preconceito e do ódio. Há um antipetismo alimentado pelos adeptos
de Aécio pouco fundado em idéias e fortemente assentado no preconceito contra
os pobres, contra os nordestinos, contra o chamado segmento “C” emergente. O PT
é atacado muito menos pelos seus erros e muito mais pelos seus acertos. A
redução da desigualdade social, a incorporação de mais quarenta milhões de brasileiros
ao sistema produtivo e ao mercado de consumo, nos doze anos de Lula e Dilma, têm
gerado uma espécie de repulsa de classe da parte das elites dominantes e de
extensa parcela da denominada classe média alta, que contamina parte do
eleitorado menos esclarecido e mais embaixo na estratificação social.
Nas últimas semanas, contudo, o confronto de ideias na mídia
ganhou as ruas – positivamente, pois além de esclarecer o eleitorado, contribui
para a elevação da consciência política de milhões.
As pesquisas captam isso. Reflete, nesta reta final do
embate, a voz das ruas. A voz barulhenta, sim; mas a outra voz, a silenciosa,
creio que ainda não. Talvez apenas na pesquisa de boca de urna o consiga.
É que há mesmo duas vozes das ruas: a que se expressa
claramente e a que se mantém contida, inibida face o ambiente agressivo que se
espraia na sociedade. Nos segmentos classificados pelos pesquisadores como C, D
e E isso é real: muita gente não revela o voto, se sente intimidada. O fenômeno
é captado nas pesquisas qualitativas, destinadas e recolher a subjetividade das
pessoas. Cá na província já vivemos essa experiência em vários pleitos.
É bem provável que a diferença pró-Dilma seja maior do que a
assinalada até agora nas últimas pesquisas. Uma franja importante do
eleitorado, maior do que a situada entre indecisos traduzirá seu peso real na
hora de digitar o voto. (Publicado no portal Vermelho, no Blog de Jamildo e no
Jornal da Besta Fubana)
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