28 junho 2016

Pacto nacional

A bola pode estar com Dilma
Luciano Siqueira, no Blog da Folha

Não há fórmula definitiva para enfrentar situações críticas. Sobretudo quando a coisa pega sob tantos aspectos, como a atual crise brasileira: econômica, financeira, institucional, política...
Há que se encontrar, digamos, uma solução ortodoxa.
Pois há momentos em que as partes litigantes se dão conta de que uma saída há de ser tentada de modo a postergar o confronto definitivo, quando reconhecem razões fundadas para tanto.
Nos dois polos do confronto político brasileiro estão o PT e o PSDB, considerados também aliados dos dois lados.
O PSDB venceu até agora a batalha do impeachment, consignando seu objetivo central desde que proclamados os resultados do último pleito presidencial: inviabilizar o segundo governo Dilma.
Mas se não se consumarem os dois terços dos votos dos senadores, o impeachment enfim não se concretizará.
Ponto para o PT e aliados? Sim, mas nem tanto.
Com a atual composição do Congresso, tão deterioradas as relações da presidenta com as diversas bancadas partidárias, conquistar novas condições de governabilidade não parece factível.
Mas se o Senado consumar o impeachment, ponto para o PSDB e aliados?
Claro que sim, porém com um senão. A continuidade do governo Temer - ilegítimo, carente de base social, apoiado em maioria parlamentar desqualificada - acena para o agravamento da crise, sem nenhuma segurança para os tucanos de que se darão bem.
Temer contempla o ideário tucano na área econômica, vale dizer, contempla sua base social principal, o chamado "mercado". Fora disso, impõe ao PSDB o desgaste advindo da cumplicidade com o governo recusado interna e internacionamente.
Nesse contexto, especula-se sobre a possibilidade de uma Carta aos Brasileiros, documento em que a presidenta Dilma anunciaria sua concordância com uma saída política civilizada para o impasse: a realização de plebiscito destinado a decidir, pelo pronunciamento popular, pela antecipação das eleições presidenciais.
Se assim proceder, há uma razoável chance de ser acolhida pelo movimento democrático em ascensão, incluindo partidos que se batem contra o impeachment e amplos segmentos dos movimentos sociais e ainda conquistar o apoio de parcelas dos que vêm guerreando pelo impedimento da presidenta. Inclusive os votos necessários para que não se consuma o impeachment no Senado.
A resultante seria um pacto nacional pela preservação da democracia, devolvendo ao povo a palavra sobre a crise através da soberania do voto.
Fácil? Obviamente não. Uma obra de engenharia política em terreno minado.
Mas não antecipadamente impossível. A bola agora pode estar com a presidenta Dilma, apoiada num consenso entre as correntes partidárias e sociais que desejam a normalidade democrática.

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