04 agosto 2016

Rio Capibaribe

O rio e a cidade
Luciano Siqueira*

Revendo notas sobre o projeto Parque do Capibaribe - Caminho das Capivaras, uma das iniciativas marcantes da atual gestão na Prefeitura do Recife em termos de retomada do planejamento urbano, resolvi reproduzir aqui essa pequena crônica, que escrevi há uns cinco anos. 
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Tu vens de muito longe, há muito tempo, desde que te chamavam de Caapiuar-y-be. Vences barreiras, abres veredas – e chegas aqui qual amante que se aloja no leito da mulher amada: ora forte, exuberante; ora sinuoso, como que a contorcer-se preguiçoso e carente após tremenda peleja.
A cidade amada o acolhe sequiosa do teu vigor e do teu afeto. O tempo, porém, sob o vendaval da moderna desordem, perturba a tua relação com a cidade como os desencontros da vida ameaçam uma relação de amor. Já não és mais aquele, que ao olhar do poeta Cabral “Engoliu as terras, engoliu as casas,/Engoliu as cercas/E engordou seu corpo/Engolindo as noites, engolindo os dias.”
Fostes envolvido pela sanha do lucro, do fausto, da ambição, da desesperança, da dor, do desamor.
Agora, quando tu encontras o teu irmão gêmeo, o Bebyrype, e se abraçam ao encontro do imenso oceano, pareces enfim derrotado. Mas ainda conservas a energia que brota do teu nascedouro, fonte renovável de tua força; e a cidade, essa amante cruel, como que arrependida, parece enfim acordar da longa noite de insensatez e, envolta pelo clamor da reinvenção da vida, busca reiventar-se a si mesma e te reencontrar como dois seres que se amam retornam à pureza do primeiro encontro.
* Publicado no jornal Perto de Casa e no portal Vermelho.

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