08 setembro 2016

Discurso eleitoral e consciência política

Entre a retórica e a realidade
Luciano Siqueira*

A crise e a descrença na política confluem - agora que a população desperta para o pleito municipal - para a necessidade de menos retórica e mais realidade concreta no discurso dos candidatos.
Aqui e alhures, como diria o velho Protasio, meu professor de português no curso ginasial.
Basta visitar o YouTube e olhar campanhas em várias capitais e cidades médias e grandes para perceber que, equivocadamente, ainda há muita frase de efeito e bordão, em detrimento do que mais interessa: a cidade, seu presente e seu futuro.
Claro que há exceções importantes, protagonizadas principalmente por prefeitos que disputam a reeleição em situação favorável, pois apoiados num conjunto de realizações que os credenciam perante os eleitores.
Estes se diferenciam pela concretude do que mostram e dos novos compromissos que anunciam.
Da parte que toca aos militantes do PCdoB, há sempre o empenho — seja da parte de candidatos a cargos majoritários, seja de pretendentes uma cadeira na Câmara Municipal — em abordar problemas imediatos de modo articulado com questões cruciais do desenvolvimento do país.
É a chave, a um só tempo, para galvanizar o interesse, a simpatia e a confiança dos eleitores, em busca do voto; e contribuir para a elevação da consciência política cidadã.
O diferencial dessa prática militante em relação ao trabalho eleitoral meramente convencional é que, com esse tipo de abordagem, é possível escapar da vala comum da demagogia e de promessas vãs e defender propostas claras e factíveis.
Tome-se comer exemplo o cada vez mais grave problema da mobilidade e do transporte coletivo de massas. Soluções cabais, sobretudo em cidades cujo desenvolvimento e ocupação do território historicamente tem se dado de maneira desordenada, reclamam a Reforma Urbana. 
Igualmente, ao se discutir a crise de financiamento das cidades, que se arrasta há anos e hoje se faz mais dramática sob as repercuções da crise econômica do País, não há como fugir da Reforma Tributária, nem do questionamento dos fundamentos macroeconômicos que permanecem intocáveis, especialmente a política de juros altos.
E é perfeitamente compreensível ao olhar do cidadão médio a necessidade de uma reforma que pratique a justiça tributária, invertendo a perniciosa equação atual, onde os que mais ganham e têm e podem pagar impostos são os que menos pagam, e os que menos ganham e menos têm é que pagam.
Também compreensível a importância de refazer a distribuição do chamado bolo tributário, que hoje concentra no governo central: dos 100% de tributos arrecadados, 65% fica no governo Federal, apenas 17% vai aos municípios e o restante aos Estados.
Uma flagrante contradição com a ascendente, desde a Constituição de 88, de transferência de encargos da União para o poder local. 
Em síntese, o discurso honesto e consequente implica esclarecer o eleitor do que é necessário e possível em curto e médio prazo e o que é necessário, porém depende de mudanças estruturais de envergadura.
*Publicado simultaneamente no Portal Vermelho, no Blog do Renato e no Blog de Jamildo/portal ne10

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