É preciso separar a
saudade, um delicioso sentimento, do saudosismo
Tostão, na Folha de S. Paulo
Nesse fim de ano, de esperanças e desesperanças, de ilusões e de
desilusões, de tantas mentiras (mundo pós-verdade) e de especulações e de
contratações de jogadores, não sei sobre o que escrevo. Não gosto de
retrospectivas, das boas e das ruins.
Recentemente, um jornalista fez uma reportagem comigo, em meu
apartamento, sobre minhas carreiras de jogador e de médico e sobre o livro que
escrevi.
O texto publicado enfatizava que não havia em minha sala nenhum
troféu ou algo que lembrasse minhas antigas profissões. Parecia, pelo texto,
que eu não curtia o passado. Não é bem assim. Apenas não gosto de exibi-lo e
sei também de minha insignificância.
Deveria ter mostrado a ele meu escritório. Há um quadro com seis
ingressos das partidas da seleção brasileira na Copa de 1970, presenteado por
um torcedor que assistiu aos jogos nos estádios.
Possuo também uma réplica pequena da taça Jules Rimet, que
ganhamos e que foi roubada dentro da CBF e derretida. Virou filme. Tenho ainda
um quadro com uma lembrança de uma homenagem feita pelo Cruzeiro.
No escritório, existe também, em um quadro, a foto de todos os
formandos de 1981 da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG).
A lembrança é o elo entre o passado e o presente. É preciso
separar a nostalgia, a saudade, um delicioso sentimento, do saudosismo de achar
que tudo no passado era melhor, mais bonito e mais feliz. Saudosistas, com
frequência, idolatram um passado que nunca existiu. "Eu não vivo do
passado. O passado é que vive em mim" (Paulinho da Viola).
O futebol continua. A Chapecoense quer escolher os jogadores que lhe interessam. O clube que vai
emprestar ou ceder concorda ou não.
Transferir para a Chapecoense atletas que estão sobrando no elenco
não é solidariedade. É conveniência. Seria como dar, de presente de Natal, algo
que você não quer mais.
A Chapecoens, que já recusou o privilégio de
ficar três anos sem ser rebaixada, continua dando aula de dignidade ao futebol
brasileiro.
O futebol continua evoluindo. Anos atrás, apenas poucos grandes
times, como o Barcelona, marcavam por pressão a saída de bola da defesa, e
apenas as equipes pequenas, quando perdiam a bola, marcavam com oito ou nove
jogadores à frente da área. Hoje, muitos times pequenos marcam por pressão, e
muitas equipes grandes marcam com até nove jogadores recuados, como faz o
Chelsea.
Quando recupera a bola, vários avançam, até um dos três zagueiros.
Mourinho, recentemente, fez algo parecido também no Chelsea, quando colocava um
"ônibus" à frente da área. Tite fazia o mesmo quando o Corinthians
foi campeão mundial.
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