02 maio 2017

Fato político novo

Dia 28: duas versões          
Luciano Siqueira, no Blog da Folha

Sempre e invariavelmente se constroem narrativas distintas diante de fatos políticos relevantes. É a própria expressão, no terreno das ideias, da luta que se trava na sociedade.

Mas ainda ocorre em tempo de crise e conflito político acirrado — como no Brasil de agora.
A greve geral e as manifestações públicas acontecidas dia 28 último, qualquer que seja o ponto de vista crítico que se exerça sobre elas, emergem como fato novo relevante na cena política.

Tanto que circulou na mídia a informação de que no Palácio do Planalto se trabalharia com duas versões, como vem acontecendo: intramuros, o reconhecimento do peso real do movimento; em público, a subestimação de sua real dimensão.

Além disso, o próprio Temer e comentaristas de TV e rádio e articulistas de jornais cuidam de valorizar excessivamente alguns incidentes violentos — que não podem ser subestimados, é verdade, especialmente o de Goiânia—, que nem de longe deram a marca dos acontecimentos.

Os incidentes violentos relatados decorreram principalmente da repressão policial do que propriamente da ação de provocadores ou anarquistas infiltrados.

Ora, fazia muito tempo que não se via em nosso país uma greve geral de fato, como aconteceu. Além disso, há que se destacar a amplitude e a pluralidade do movimento, que na convocação e realização envolveu segmentos para muito além do próprio movimento sindical - reflexo do grau de isolamento do governo Temer e da generalizada rejeição às reformas trabalhista e previdenciária — como as próprias pesquisas de opinião vêm atestando.

Acrescente-se que na esteira da greve geral, pela primeira vez todas as centrais sindicais, ao celebrarem o Primeiro de Maio, ontem, convergiram para bandeiras unitárias, particularmente a luta contra as duas reformas.

Cumpre agora acompanhar em que medida a voz das ruas repercutirá no Congresso Nacional, tanto na tramitação da reforma trabalhista no Senado como da reforma previdenciária na Câmara dos Deputados, nos próximos dias.

Nesse contexto e diante de tamanha evidência dos fatos, minimizar o movimento do dia 28 não apenas é faltar com a verdade, como da parte dos governistas — incluindo seus arautos da mídia — resulta em erro crasso de avaliação, quando não pura e simples tergiversação.

O envolver da cena política nacional é marcado, na atualidade, pela instabilidade e pela imprevisibilidade. Tudo pode acontecer, inclusive um cenário novo em relação às eleições presidenciais do ano vindouro, a depender da sincronia entre os humores da sociedade e o comportamento dos atores políticos.
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