21 junho 2017

Crise sem fim

Revista "Piauí"
O rei está nu e mal acompanhado
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10

Numa crise que se arrasta sem sinal de superação, todo fato novo é importante, ainda que não decisivo. A rejeição do relatório apresentado pelo senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, ontem, dá fôlego à luta contra a reforma trabalhista.

Mais do que isso, sinaliza o avanço das rachaduras na base parlamentar governista, subproduto do crescente desgaste do presidente ilegítimo Michel Temer, alvo de ataques da Polícia Federal e da Procuradoria Geral da República.

Enquanto isso, Temer viaja à Rússia e à Noruega – reconhecem ministros da sua intimidade – para passar a impressão de que há normalidade no País.

Arguido sobre a derrota de ontem, transferiu suas expectativas para a votação em plenário.
Perguntado sobre o relatório da Polícia Federal que o acusa de corrupção com base em evidências factuais, respondeu (pateticamente) que o assunto é da esfera judiciária e não política.

Em breve palestra a empresários e autoridades russas, Temer afirmou sem a menor desfaçatez que “quando a economia dava sinais de crescimento, surgiram fatos absolutamente ‘irrelevantes’ para perturbar a superação da crise”, referindo-se ao escândalo da J&F.

Ou seja, o rei não apenas está nu – e faz de contas que se veste a rigor -, como anda muito mal acompanhado: há os que o apoiam e prenunciam a retirada e os que já desembarcam das hostes governistas desde já.

Seu “núcleo duro” de governo segue tão enlameado quanto o próprio presidente, preservado apenas o ministro Meirelles, que a grande mídia e o Mercado blindam por ser justamente ele o operador do projeto de regressão de conquistas sociais e direitos e de submissão completa e definitiva de nossa economia a establishment financeiro externo e interno.

Quando o governador de São Paulo Geraldo Alckmin reafirma que o apoio do PSDB ao governo está como que “sub judice”, condicionado à natureza e a à repercussão de novas revelações comprometedoras contra o presidente, dá a medida da fragilidade atual da coalizão governista.

E a crise aprofunda suas implicações sociais, num misto de piora crescente das condições de existência da maioria da população e de falta de perspectiva.

Tendo em mira as eleições gerais do ano vindouro – se de fato acontecerem -, há espaço para uma alternativa renovadora da política e das expectativas, desde que se conjuguem forças em torno de uma plataforma comum consistente e capaz de empolgar a maioria do eleitorado.

Nada está fácil e prevalece a imprevisibilidade.

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