07 junho 2017

O buraco é bem mais embaixo

A real dimensão das reformas
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10

Em meio à multifacetada crise em que estamos mergulhados, vêm à tona os verdadeiros problemas estruturais que travam o desenvolvimento do país. Para muito além de oscilações e percalços conjunturais. E do contraditório e desgastante emaranhado de denúncias, delações premiadas e entreveros entre os chamados Três Poderes da República.

O Brasil tem peso específico na geopolítica mundial, mas abrir espaço na cena internacional para o seu próprio desenvolvimento, afirmando-se como nação soberana e progressista, requer superar marcas negativas que historicamente permeiam a sua trajetória.

Em que pesem índices elevados de crescimento verificados entre os anos 30 e 80 do século passado, somos ainda uma nação em vias de desenvolvimento, “periférica”, gerida por um Estado conservador, sob controle dos círculos financeiros.

Temos, assim, uma economia ainda dependente e de desenvolvimento médio, relegada a um segundo plano na divisão internacional do trabalho imposta pelas grandes potências. 

A persistência da propriedade latifundiária improdutiva ou de baixa produtividade, que inibe o aumento da produção e a democratização da terra e a enorme defasagem da renda do trabalho em relação à renda do capital fomentam profundas desigualdades sociais e regionais, articuladas com a concentração da produção e da riqueza nas regiões Sudeste e Sul.

Também o atraso civilizacional, traduzido em empecilhos à emancipação das mulheres, que esbarra na lógica do capital e nos preconceitos de gênero.

Estamos atrasados em décadas do desenvolvimento sustentável, do que resulta a degradação ambiental.

Sofremos gigantesca e sofisticada pressão ideológica de valores nocivos à afirmação da soberania do país, sustentada pelo monopólio midiático e pela indústria cultural estrangeira.

No exercício democrático, desastrosa é a permanência de um sistema político-eleitoral tendente à fraude, à influencia nociva do poder econômico e à distorção da vontade cidadã expressa através do voto.

Tais obstáculos remetem a reformas estruturais de sentido democratizante, progressistas: tributária, urbana, agrária, urbana, do sistema educacional, dos meios de comunicação, do Judiciário e político-eleitoral. Com sentido democratizante, progressista.

Nada a ver com as reformas que pontificam na agenda do governo Temer, que têm caráter regressivo, como se vê nas reformas trabalhista e previdenciária. Nem de longe tocam nos verdadeiros impasses dos desenvolvimento do País, mas se voltam especificamente para as necessidades da reprodução do capital como se dá hoje, sob a égide do setor rentista.

Daí a necessária percepção de que para destravar o desenvolvimento do País não bastará a superação do impasse político atual, concentrado na permanência ou na continuidade do governo Temer e em saída democrática ou restritiva para a sua substituição.

A empreitada tem dimensão estrutural e grande envergadura política.

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