25 junho 2017

Desinformação e intolerância

As redes sociais são a pornografia da opinião?
Não está na hora de discutir mais a fundo as redes sociais? Se elas são o núcleo da vida pública atual, se todo o jornalismo converge para elas, se toda a informação produzida por atores sociais de qualquer tipo é divulgada por elas, se a política depende delas, não é urgente debater o papel que elas cumprem?
Gabriel Priolli, no blog Nocaute
Não está na hora de discutir mais a fundo as redes sociais?
Se elas são o núcleo da vida pública atual, se todo o jornalismo converge para elas, se toda a informação produzida por atores sociais de qualquer tipo é divulgada por elas, se a política depende delas, não é urgente debater o papel que elas cumprem?
Seu papel na cultura? Seu impacto na democracia?
Ainda predomina uma visão apologética das redes sociais. Uma ideia de que elas são libertárias, empoderam os indivíduos, demolem hierarquias e privilégios na comunicação social.
Mas elas não são também responsáveis, em alguma medida, pela cacofonia ensurdecedora de opiniões em que vivemos, pela mediocrização do debate público, pela explosão da pós-verdade, do preconceito e do ódio político?
Onze anos atrás, numa reportagem muito profunda que publicou no jornal Financial Times e que foi reproduzida aqui no Brasil, o pesquisador de mídia Trevor Butterworth apontou um novo fato social: a “pornografia da opinião”.
Ele comentava o fenômeno dos blogs, que já eram quinze mil em 2002, nos Estados Unidos, e que em 2005 se reproduziam à razão de 56 por minuto. Já então a chamada “blogosfera” ameaçava o jornalismo tradicional.
O pesquisador se perguntava: seria o “blogging”, de fato, uma revolução da informação? Não deveria ser encarado com um pouco de ceticismo?
Daquele tempo para cá, os blogs viraram café pequeno. Tivemos a explosão do Orkut, depois do Twitter, do Facebook, do WhatsApp.
Apenas o Facebook tem mais de 100 milhões de usuários no Brasil. O WhatsApp tem 120 milhões. Isso é mais de 83% do eleitorado do país, que reúne 144 milhões de pessoas aptas a votar.
Toda essa gente troca informações e impressões o tempo todo, numa escala sem precedentes.
Compartilha informações reais ou fake news, forma e deforma opinião política, combate ou reforça preconceitos – e tudo na velocidade da luz, sem o menor tempo de reflexão e maturação dos conteúdos.
Dissemina-se uma cultura epidérmica e uma política de consensos e dissensos imediatos, estimuladas por uma sensação artificial de urgência. É tudo sempre apressado, nada jamais aprofundado.
A julgar pelo Brasil e o mundo que essa nova esfera pública está produzindo, é impossível não se preocupar.
Professores de comunicação recentemente reunidos no seminário Compós 2017 elencaram questões cruciais, em torno da sociabilidade nas redes sociais e do momento distópico que vivemos.
Como sair desse “eterno presente” da timeline? Como pensar a longo prazo? Como dialogar? Como vencer a “ditadura” da velocidade? É possível construir uma democracia e uma governança em tempo real?
Estas são as questões realmente relevantes para a comunicação nesses tempos.
Leia mais sobre temas da atualidade: http://migre.me/kMGFD

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