O que
há de mais nocivo na agenda regressiva
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10
Quando tudo conspira contra
não é fácil identificar o problema principal. Assim ocorre agora com o ilegítimo
governo Temer.
Na agenda regressiva de direitos
e de restrições à soberania, certamente no desmonte do Estado nacional reside o
que há de mais danoso. Porque no mundo de hoje, nenhum país logra êxito prescindindo
do Estado como indutor do desenvolvimento.
E o que assistimos no Brasil
pós-golpe, sob a égide da consigna “menos Estado, mais mercado”, é o logro da
retomada do crescimento econômico apoiado no setor privado, na esteira do
esvaziamento do setor público.
A narrativa governamental
parece ser lógica, mas não é.
Para deter a desorganização
das finanças públicas, a mágica é o ajuste fiscal
centrado no corte das despesas governamentais.
Além de sacrificar duramente programas
sociais compensatórios, sufocar a pesquisa científica e o ensino público
universitário e técnico e restringir o mercado interno, aborta investimentos públicos
em infraestrutura – receita de aprofundamento da recessão – e não resolve o problema
eleito como central, o déficit público.
Nesse contexto, ganha destaque o programa
de privatização de 57 empresas públicas apresentado como solução heroica para a
geração de receitas necessárias para o equilíbrio financeiro.
Nessa matéria, sequer aprendemos
com lições recentes. Nos governos Collor e FHC, a privatização de empresas
estatais estratégicas resultaram na transferência de 15% do PIB ao setor privado
e proporcionaram a perda definitiva de 546 mil postos de trabalho. E nem
promoveram crescimento nem sanaram o déficit público – como bem assinala o
economista Marcio Pochmann em artigo recente.
Ora, não se conhece nenhum caso mundo
afora de crescimento econômico sem pesados investimentos públicos.
A lógica de Temer e sua equipe
econômica é a lógica do rentismo. E da renúncia à soberania.
Mas o noticiário produz uma imensa
cortina de fumaça, que dá como legitima a interrupção da normalidade
constitucional e prioriza o combate à corrupção – bandeira de toda a sociedade,
que não pode ser subestimada nunca, mas que se presta, na atualidade, não
apenas à transgressão de normas processuais, a uma seletividade criminosa e a
confundir a população.
Mais do que nunca é preciso
defender um projeto nacional de desenvolvimento – que comporta sim, a restauração
da normalidade democrática e a defesa e o restabelecimento de direitos e
conquistas sociais fundamentais, mas sobretudo a preservação do Estado
nacional.
O programa de privatizações não
pode seguir sem resistência. A inclusão da CHESF na tentativa de transferir ao
setor privado esse segmento estratégico há de mobilizar todas as forças vivas
do Nordeste – partidos progressistas, movimentos sociais, governadores,
parlamentares, a academia e o mundo da ciência e da tecnologia. Antes que seja
tarde.
Leia mais sobre temas da
atualidade: http://migre.me/kMGFD
Nenhum comentário:
Postar um comentário