25 abril 2018

Ontem e hoje


Arraes e o PCdoB
Luciano Siqueira, no Blog da Folha

Na trajetória de lutas de uma nação há combatentes que se salientam em algum momento. Poucos, entretanto, têm presença marcante por largo período – como Miguel Arraes, influente líder político por mais de cinco décadas. Oportuno lembrar três das suas melhores qualidades: a defesa persistente e conscienciosa da soberania nacional; uma enorme sensibilidade para com as condições de existência do povo e a manutenção de duradoura aliança com os comunistas, mantida em diferentes situações.
Firmeza na defesa de convicções é sem dúvida uma virtude, quando não resvala para a intransigência cega ou o anacronismo infenso às transformações da realidade. A compreensão de Arraes acerca da questão nacional – nas suas diversas dimensões -, ao contrário de alguns outros nacionalistas, jamais cheirou a naftalina. Ele cuidou de atualizá-la no tempo histórico e de fundamentá-la através do estudo acurado dos problemas.
A paciência para ouvir e a sensibilidade para captar o sentimento e as necessidades dos habitantes das periferias urbanas e do meio rural, em muito atenuou, nas três vezes em que governou Pernambuco, as limitações inerentes a um governante apegado a concepções e métodos de gestão antiquados, ultra-centralizadores. Isso se refletia no trato com membros do governo, que considerava ineficientes se incapazes de aliar a competência técnica ao relacionamento direto com o povo.
Líder inorgânico, praticamente sem intermediários na sua relação com o eleitor, nunca de empenhou em organizar partido político. Frequentou alguns e só se ocupou em dirigir, por alguns anos, o PSB, que presidia. No entanto, queixava-se da fragilidade da estrutura partidária brasileira e costumava mencionar o PCdoB como exemplo de organização lúcida e disciplinada. Em ocasiões de crise, quando a dispersão das correntes populares parecia predominar, sugeria que o Brasil poderia romper com a dominação estrangeira se se unissem os comunistas e as Forças Armadas em torno de um projeto nacional capaz de galvanizar o povo e amplos segmentos da sociedade.
A interlocução constante entre Arraes e o PCdoB em Pernambuco, por precisos vinte e seis anos, desde que retornou do exílio, forjou um relacionamento pautado pela confiança mútua e pela amizade, inabaláveis mesmo quando afloravam divergências e seguíamos caminhos discrepantes.
Num instante da vida nacional em que convicções e compromissos programáticos são postos a segundo plano, sob o predomínio do imediatismo inconsequente, importa reavivar a memória e a presença de Miguel Arraes.

É preciso enfrentar as eleições de outubro com um olho na missa e o outro no padre https://bit.ly/2qSM2U3

2 comentários:

Unknown disse...

Miguel Arraes foi um dos maiores expoentes da esquerda brasileira. Virou um verdadeiro ícone para política Pernambucana.

Unknown disse...

Miguel Arraes foi um dos maiores expoentes da esquerda brasileira. Virou um verdadeiro ícone para política Pernambucana.