11 abril 2018

Luta complexa


Os múltiplos detalhes da batalha eleitoral
Luciano Siqueira

Algumas décadas transcorridas, a experiência recomenda muita atenção às lições do passado e, com apoio nelas, uma apreciação cuidadosa das circunstâncias presentes.

Vale para tudo na vida. Para a luta política, mais ainda.

O navegador Amyr Klink, por exemplo, no livro em que narra sua solitária expedição ao Polo Norte ('Paratii entre dois mundos'), demonstra que, por um pequenino erro de construção — a inversão de sentido no interruptor do dispositivo de gás — o moderníssimo barco de alumínio poderia ter explodido. 

Por mais "perfeito" que seja um projeto, um único detalhe pode botar tudo a perder — adverte Klink.

Na luta política, então, essa verdade se confirma através da História. Tanto que, ainda em meados do século 19, Engels escreveu sobre a força do acaso no rumo dos acontecimentos políticos.

Isto porque nenhuma batalha se vence ou se perde como produto de uma operação aritmética. Pesa sim, como fator determinante, o descortino tático.

Em eleições majoritárias, estamos caducos de presenciar coalizões formalmente fortíssimas soçobrarem diante de adversários inicialmente em desvantagem, em razão de erros de avaliação — e, por conseguinte, equívocos táticos.

Começa que todas as forças conjugadas, sem exceção, são importantes. Mesmo aquelas aparentemente menos robustas, pois estarão ocupando trincheiras que influenciam o conjunto da peleja.

O fato é que, em grande medida, o resultado será fruto da campanha eleitoral propriamente dita, ainda que a partir do próximo pleito de outubro as campanhas tenham sido oficialmente reduzidas a quarenta e cinco dias. 

Será justamente o momento em que a maioria do eleitorado estará atenta ao movimento dos contendores.

Essas anotações podem parecer mera digressão aos olhos de alguns, mas não são. 

Não faz muito tempo — em 2000 — ocorreram inesperadas vitórias no Recife e em Olinda, quando se elegeram prefeitos, respectivamente, João Paulo e Luciana Santos, ambos enfrentando coalizões "aritmeticamente" poderosas, mas incapazes de darem conta de diferentes visões e vontades políticas das correntes aliadas.

Basta um olhar minimamente atento para a movimentação de forças nos estados, Brasil afora, para identificar fatores de risco, tão evidentes quanto aparentemente subestimado, justamente pelos que se sentem antecipadamente fortes o suficiente para permitir que, em suas hostes, se acumulem elementos de insatisfação que poderão influenciar pesadamente a batalha.
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