25 abril 2018

Uma crônica para descontrair

O rádio e a antecipação da notícia
Luciano Siqueira


Fernando Sabino diz numa de suas crônicas que o rádio entrou na residência dos brasileiros pela sala de visitas e, com o advento da televisão, foi parar na cozinha.

Em minha casa, não exatamente na cozinha: no banheiro. Porém não relegado a uma condição inferior, vez que é muito mais ouvido do que vista é a TV.

Desde cinco horas da manhã, quando tomo o primeiro banho antes da caminhada matinal.

Ali, sempre presente, de domingo a domingo, anunciando os acontecimentos do dia e difundindo comentários de tudo o que é gente se arvora especialista nos mais variados assuntos.

Testemunho assim a importância do rádio na formação (ou deformação) da consciência política do nosso povo. Não só do rádio, mas dos meios de comunicação como um todo: a TV e os jornais, e também os sítios na Internet, guardam uma relação simbiótica com o rádio, um alimenta os demais e vice-versa.

O rádio confirma ou antecipa a notícia, dependendo da hora em que o sintonizemos. Na madrugada, os jornais impressos do dia já não terão tempo de registrar o que ocorreu em Estocolmo, Atenas ou Mossoró, naquele instante; mas o rádio sim, pois a informação terá sido captada em tempo real, via Internet e de imediato repassada aos ouvintes.

A “antecipação” da notícia às vezes é precipitada pela ansiedade de quem a transmite. Vira premonição. Como aconteceu com um jovem repórter da Rádio Jornal, no Recife, em meados dos anos 80, quando eu exercia o primeiro mandato de deputado estadual colado às lutas populares em ascensão.

Uma espécie de plantão permanente, para o que desse e viesse. Um pé na Assembléia Legislativa e o outro nas ruas.

Foi na ocupação do conjunto habitacional Montes Verdes, no Ibura.

Transmissão ao vivo. O repórter narra a chegada do Batalhão de Choque da Polícia Militar, enviado pelo governador Roberto Magalhães, e o tumulto que se instala – gritaria, corre-corre, choro de crianças, vozes exaltadas:

- Há muita confusão, senhores ouvintes, pessoas podem ser feridas. Como sempre acontece, o deputado Luciano Siqueira já se encontra no local e, segundo lideranças comunitárias ouvidas pela reportagem, já teve um entrevero com o capitão Viana.

- Então ouça o depoimento do deputado – pede o locutor do estúdio.

- Ainda não é possível. O deputado parece estar encoberto pela poeira que se levanta no local do conflito, onde alguns policiais foram agredidos a pedradas.

- Ele foi agredido pelos policiais? É importante verificar isso.

- Vamos verificar, vamos verificar... e dentro de alguns minutos ele dará entrevista exclusiva para nossa emissora.

Mas não tinha jeito de encontrar o deputado, que ouvia tudo pelo rádio do carro, ainda se deslocando de casa para o bairro, agora o mais rápido que podia – para cumprir o dever e não frustrar o repórter e os seus ouvintes.

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