12 junho 2018

Povo triste


Copa do Mundo com ou sem emoção?
Luciano Siqueira, no Blog da Folha

A primeira Copa do Mundo de futebol de que tive alguma consciência foi a de 1954, com alto-falante no poste da esquina da minha rua, na Lagoa Seca, então bairro periférico de Natal. 

Tinha sete anos apenas e lembro-me da voz de Jackson do Pandeiro cantando "esse jogo não é um a um/(se meu time perder é zum-zum-zum" até que se iniciasse a transmissão do jogo. 

Desde então, todas as Copas galvanizaram as atenções do povo brasileiro, mesmo das parcelas que não costumam acompanhar o futebol. 

É como se em alguma parte do mundo "a Pátria de chuteiras" — como dizia Nelson Rodrigues — estivesse guerreando. 

Mas a Copa de agora não tem despertado muito interesse. Nada de varandas ornamentadas com as cores da seleção canarinho. Álbuns de figurinhas parecem encalhar nas bancas de revistas. Até mesmo bares ornamentados e com faixas indicativas de que terão telão à disposição dos torcedores, tenho visto muito poucos.

Um amigo diagnostica: "Um povo que não encontra gás de cozinha não se anima com a seleção".

Pode ser. 

A crise em que se vê afundado o país, que se alimenta diariamente da agenda regressiva e neocolonialista de Temer, contamina todas as entranhas da sociedade brasileira.

Os brasileiros não enxergam perspectiva. A proximidade do pleito presidencial até o momento não sugere mudança de rumo, a ponto de um capitão da reserva sem eira nem beira açambarcar parte considerável das intenções de voto, conforme as pesquisas. Isto sem que se tenha certeza da viabilidade legal da candidatura de Lula e sem que dois dos pré-candidatos que efetivamente vêm apontando solução para a crise, Ciro Gomes (PDT) e Manuela D’Ávila (PCdoB) tenham ainda alcançado audiência mais larga.

E assim temos um indicativo concreto de que estamos no fundo do poço: nem a seleção bem organizada e competitiva, sob o comando de um técnico inteligente e com chances reais de êxito, conquista a emoção do nosso povo. 

A Pátria do futebol pouco se interessa pela competição magna, que envolve as atenções de milhões de telespectadores em todo o mundo.

A grande mídia certamente dará uma forcinha. Precisa faturar com o merchandise através de audiência maior para a cobertura do evento. Mas não é certo que se crie a empolgação de outras Copas.

Na era Temer e sob os efeitos do golpe ainda em curso, o povo brasileiro está triste.

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