20 julho 2022

Talentos para o meio-campo

Times precisam investir na formação de jogadores inventivos no meio-campo
O bom André, do Fluminense, marcou golaço coletivo e individual contra o São Paulo
Tostão, Folha de S. Paulo

O Cruzeiro está praticamente classificado para a Série A. As duas derrotas para o Fluminense, pela Copa do Brasil, confirmaram que o time está muito forte para a segunda divisão e fraco para fazer uma boa campanha na primeira. Vai precisar de reforços, não apenas de contratações.

No fim de semana, termina o primeiro turno do Brasileiro da Série A. Aos poucos, os times se colocam na tabela de acordo com expectativa criada antes do início da competição. Os únicos que estão fora do lugar esperado são o Flamengo, que deveria estar entre os primeiros, e o Fortaleza, que deveria estar, no mínimo, no meio da tabela. Provavelmente, as duas equipes vão crescer no segundo turno.

As colocações das equipes são consequência muito mais da qualidade do elenco do que da estratégia e do desenho tático. Até o losango do meio-campo, que nunca foi utilizado na Europa, por não ter meias pelos lados, e que, há muito tempo, foi abandonado no Brasil, ressurgiu no Flamengo, com vitórias, graças ao talento de seus três meio-campistas e do meia ofensivo Arrascaeta. Se Cebolinha entrar pela esquerda, o técnico terá de mudar o desenho tático.

A estratégia é a referência posicional de uma equipe, uma condição importante para se jogar um bom futebol, mas o que define o talento e a eficiência de um time é a qualidade individual.

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Um ponto bastante positivo do futebol que se joga no Brasil é a presença de vários jogadores de meio-campo bons de bola, sejam os mais recuados para iniciar as jogadas ofensivas com bons passes, como Allan e Danilo, ou os meio-campistas, que atuam de uma intermediária à outra, como João Gomes e Zé Rafael. O volante André, do Fluminense, une as duas características.

Décadas atrás, mais ou menos a partir dos anos 1980, houve mudanças importantes na maneira de jogar o futebol. Os europeus atuavam com laterais-zagueiros, que não avançavam, e a transição da bola, da defesa para o ataque, era feita pelo meio-campo.

Quando a Inter de Milão contratou o lateral Roberto Carlos, antes de ele jogar no Real Madrid, o treinador o escalou na ponta esquerda, porque os laterais não atacavam. Já no Brasil, era o contrário. Os laterais avançavam com habilidade, e os volantes, dois ou três, protegiam os zagueiros, sem passar do meio-campo. A transição da bola era feita pelos laterais ou por meio de chutões.

Com o tempo, os europeus passaram a importar bons laterais brasileiros para apoiar e a formar laterais com essas características. Hoje, existem ótimos laterais apoiadores nas melhores equipes da Europa. Eles se revezam com os meio-campistas na transição da bola para o ataque.

No Brasil, apenas recentemente o meio-campo passou a ser uma área de criação, alternando com os laterais no apoio. Casemiro e Fabinho, que jogam na Europa, estão entre os melhores volantes do mundo. Existem também bons meio-campistas, jogando no Brasil ou no exterior, como Fred e Bruno Guimarães, que devem ir ao Mundial, mas falta, nessa posição, um grande craque, função importante para a alma e a criatividade de uma equipe.

Os técnicos dos times principais e das categorias de base precisam investir mais na formação de jogadores inventivos no meio-campo. Contra o São Paulo, o volante André, do Fluminense, que marca e que tem muita habilidade, avançou, no momento exato, para receber o passe nas costas dos volantes adversários e finalizou com precisão. Um golaço, coletivo e individual.

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