Desaba outro mito eleitoral?
Sérgio Augusto Silveira*
sergioaugusto_s@yahoo.com.br
As campanhas eleitorais em todo o Brasil – e creio que também no resto do mundo – trazem, toda vez, a cultura de alguns mitos, a exemplo do andor (o nome do candidato sendo sustentado por algum líder de renome). Na atual campanha para as eleições municipais majoritárias estamos vendo a ascensão e muito provável queda de um outro mito, no Recife.
E qual é ele? O de que quem lidera logo de cara nas pesquisas, tende a ir desabando, desabando até acabar enfrentando o fantasma do segundo turno. Eu chamaria a esse da seguinte maneira: o mito da queda.
É o que estamos vendo nesta campanha de 2008. Assistimos a uma verdadeira cruzada dos candidatos Raul Henry (PMDB), Mendonça Filho (DEM) e Cadoca (PSC) – com o apoio, na prática, dos candidatos de esquerda menos preferidos – cruzada com discursos apostando na queda espetacular do candidato petista João da Costa nas preferências a partir de agora, faltando 15 dias para as eleições.
Já foram registrados, numa rodada de pesquisa há uns 10 dias, que o João do João chegou aos 51 por cento das preferências. Depois, outro instituto registrou 49,5 por cento, ao tempo em que Raul Henry subia de cinco para nove por cento, ficando em terceiro lugar, um ponto percentual na frente de Cadoca.
Pronto, esses números serviram para empinar o mito da queda, com muita falação, apostando no início da derrubada de João da Costa da liderança. Só que aquela diferença à qual me referi acima não indicaram, na seqüência, que o líder nas preferências começou a desabar pela escada das preferências dos eleitores.
Até agora a decisão em primeiro turno permanece na agenda. Aquela falação dos que estão embaixo não é um discurso de vitória. É, sim, uma aposta acirrada por algo menor, ou seja, para que “conquistem” o segundo turno. Essa é a “grande vitória” dos que alimentam o mito da queda.
Em paralelo a esse discurso, vai-se alimentando a contra-propaganda, mesmo que ela seja totalmente mentirosa. Seria a chegada do desespero? Exemplo disso foi a tentativa de ligar, como acusação, o candidato petista ao culto dos orixás, dos terreiros, e freqüentador dos candomblés para fazê-lo perder votos.
Trata-se de uma atitude típica do século 19, refletindo o preconceito cultural, o preconceito escravagista que, acreditam alguns, ainda funciona na cuca dos cidadãos recifenses. O líder nas pesquisas tem, sim, apoio de centros culturais afro-brasileiros, e isso é algo para ser elogiado e não estigmatizado. Enfim, com mais esse fato descobrimos que, além da queda, mais um mito é desmascarado nesta campanha: o mito do preconceito.
* Jornalista
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