Os incomunicáveis
Luciano Siqueira
“Imagine, amiga. Eu, uma simples paraibana de Sapé em plena Frankfurt sem falar uma palavra em alemão! Mas você encara o inglês, pelo menos? Nada disso, só a nossa velha língua pátria. Melhor do que eu, então, que arranho o inglês, o espanhol, o francês e continuo achando todas enigmáticas demais. Inclusive o português. Enigmáticas? Sim, querida. Porque quando mais preciso, falo e ninguém me entende.”
O diálogo tenho cá comigo anotado numa pasta de “conversas da mesa ao lado”, que em bares e restaurantes tenho a oportunidade de ouvir de vez em quando. Sem nenhuma bisbilhotagem, acredite. As pessoas é que falam muito e em voz alta – e é divertido captar ainda que seja fragmentos do que dizem, não raro revelando a tristeza de amores não correspondidos, a frustração de projetos fracassados ou o entusiasmo por conquistas obtidas. Ou mesmo coisinhas do cotidiano sem maior importância.
Experimente escutar um pouco e veja se não é interessante. E útil – pelo menos para mim neste instante em que rabisco aqui a coluna sem nenhuma vontade de falar de coisas complicadas, pois daqui até o dia trinta e um o clima é de festa e ninguém é de ferro.
E por que justamente a fala da poliglota incompreendida? Porque tem me chamado a atenção, no noticiário, o redobrado esforço da grande mídia e de alguns persistentes porta-vozes da direita em atacar o presidente Lula de todas as formas possíveis. Até o “sifu” do presidente em solenidade recente – de arrepiar as distintas madames presentes, na avaliação de colunistas mais sisudos – virou munição, ao lado da torcida insana para que a crise financeira global faça logo grandes estragos em nossa economia. Mas quando se computam dados de pesquisas – como a última rodada CNT-Sensus - a popularidade do presidente continua altíssima. E a oposição... sifu mesmo!
Onde reside, então, a dificuldade dos oposicionistas - na linguagem ou na falta de boas idéias? Nas duas coisas. Tucanos e demos e comunicadores das diversas mídias não conseguem oferecer uma alternativa razoável à postura adotada pelo governo face à crise; e, além disso, usam de uma linguagem quase incompreensível pela maioria da população.
Outro dia, cá na província, um deles insistia na tese do Estado mínimo para pedir cortes nos gastos públicos e contenção do consumo, e falava de um tal “choque de gestão” que a grande maioria dos telespectadores nem sequer sabe do que se trata.
Desse jeito, se não mudarem o discurso continuarão falando sozinhos – pior do que a paraibana de Sapé em Frankfurt e a amiga poliglota.
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