A nociva inversão de valores na campanha eleitoral
Luciano Siqueira
Os resultados justificam os meios, quaisquer que sejam? Sim, se nossa concepção se inspira no pragmatismo filosófico norte-americano, de Charles Sanders Peirce e William James, que sacrifica valores fundamentais construídos pela sociedade humana e exalta o vale-tudo – na vida e na política.
A resposta será não, se considerarmos que a justeza dos objetivos está indissociavelmente vinculada a valores supremos, tais como o bem para todos – ou, pelo menos, para a maioria que sobrevive mediante o trabalho e é constrangida a relações de exploração e de opressão.
Quando disputávamos o pleito de 2000 com João Paulo no Recife, e surpreendentemente chegamos ao segundo turno, ampliaram-se enormemente as forças que se ajuntavam na oposição ao então prefeito Roberto Magalhães, que tentava a reeleição. A expectativa de vitória assanhou todos os apetites – inclusive de vários dos que, conscientemente ou não, se movem pelo pragmatismo acima de qualquer valor humano e para quem o importante é vencer, não importa como.
Não faltou, naquelas circunstâncias, quem sugerisse ataques pessoais ao adversário, a que reagimos de modo intransigente. O candidato a prefeito, João Paulo, e esse amigo de vocês, seu vice e encarregado de responder politicamente pela condução do programa de TV, tivemos que ouvir todo tipo de argumento com paciência de Jó. Paciência, para não perder apoios nem cometer indelicadezas, porém com a firmeza necessária para não permitirmos, como não permitimos, abaixar o nível do discurso e perder a razão. Mesmo que a campanha do oponente tenha apelado para expedientes condenáveis, mediante artifícios televisivos e mesmo através do então governador Jarbas Vasconcelos, ele próprio encarregado de “descontruir” a imagem do candidato operário, insinuando incompetência, despreparo e irresponsabilidade (sic).
Não cedemos – e vencemos! Além da conquista, obtida de modo espetacular, nas circunstâncias; recolhemos a lição de que é possível suplantar o adversário sem lhe faltar com o respeito. É possível ser combativo e ético.
Na presente campanha presidencial, lastimável que aconteçam duas campanhas paralelas: a “oficial”, pela TV e pelo rádio, e a “paralela”, através de verdadeira rede de calúnias e intrigas, pela Internet. Péssimo que, iniciado o segundo turno, o candidato tucano, ex-governador Serra, tenha incorporado ao seu discurso, portanto à campanha “oficial”, conteúdos antes disseminados através do jogo sujo via Youtube, e-mails e sites de relacionamento, validando assim procedimentos que deveria condenar . Ou seja: para vencer, tudo vale, mesmo que ponha por terra a reputação de quem sempre procurou exibir uma aura de seriedade.
Aí, além de uma perversa inversão de valores, provavelmente ocorre também a subestimação da capacidade de discernimento da maioria do eleitorado.
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