17 março 2012

A nova "classe média"

Cobiçada e pouco compreendida
Luciano Siqueira

Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online) 

Em debate recente, da plateia me veio um comentário de sentido negativo acerca da chamada “nova classe média” – esse contingente de quase trinta milhões de brasileiros que recentemente ascendeu na pirâmide social e passou a contar no mercado consumidor. “É uma parcela da população que se coloca contra as mudanças que desde Lula vêm acontecendo!”, sentenciou a interpelante em tom inquisitivo.

Discordei de pronto. Até porque os resultados eleitorais indicam o contrário, a ponto de analistas terem criado a figura da “teoria do lago invertida”, referindo-se ao fato de que o segmento de maior poder aquisitivo e de mais elevado nível de instrução – a “classe média tradicional” – ter se manifestado muito sensível e acuada diante do bombardeio da mídia e da oposição ao presidente Lula, em seu primeiro governo, enquanto os chamados segmentos C, D e E (na classificação mercadológica) se converteram na base eleitoral principal do presidente, em sua reeleição. Invertendo-se, assim, o que se supunha acontecer antes: o segmento B é que exercia influencia sobre de mais, logo abaixo, que nem as ondas sucessivas a partir da queda de uma pedra sob lago de águas em repouso.

Tanto na reeleição de Lula e como na vitória de Dilma, o movimento deu-se em sentido contrário, a turma menos aquinhoada pressionando os melhores situados social e culturalmente.

Pois bem. Em artigo de alguns meses atrás, na Folha de S. Paulo, o economista Marcelo Neri - com a ressalva de não estar “falando de classes sociais (operariado, burguesia, capitalistas etc.), mas de estratos econômicos” – assinala a importância de se investigar, para a compreensão do que se passa com esse segmento da população, “as relações concretas entre fluxos de renda e estoques de ativos abertos em duas grandes frentes: a do produtor e a do consumidor analisadas em detalhes sociais e setoriais.”

O lado do produtor implica em emprego e empreendedorismo. O lado do consumidor envolve consumo e poupança. E assegura que “a nova classe média constrói seu futuro em bases sólidas que sustentem o novo padrão adquirido. Isso é o que chamamos de lado brilhante dos pobres.”

Sendo assim, imagino cá com meus botões, a evolução da consciência política desse segmento não pode ser subestimada. Talvez seja por isso que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso venha expressando, recorrentemente, preocupação com o fato de que o seu partido, o PSDB, sustenta um discurso muito distante da realidade e dos anseios “da classe média”. E que, segundo ele, urge encontrar o ideário que faça dos tucanos corrente política confiável perante essa gente.

Missão impossível, em se tratando de um partido que pensa o País a partir da Avenida Paulista, como dizia Miguel Arraes. Pois como bem adverte Marcelo Neri, “a nova classe média nasce a partir da recuperação de atrasos tupiniquins. Ela é filha da volta do crescimento com a redução da desigualdade.” Logo, digo eu, tende a manter o apoio às transformações que o Brasil experimenta e que beneficia a maioria dos brasileiros.

Nenhum comentário: