10 março 2012

Unidade e independência entre partidos coligados

Onde não adianta procurar chifres em cabeça de cavalo
Luciano Siqueira

Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)

Quem vai muito além das aparências termina encontrando a verdadeira essência das coisas, na análise dos fatos, das opiniões, do comportamento das pessoas. Na política isso é tão necessário quanto indispensável. Mas é errado e estéril interpretar o que ocorre segundo ideias preconcebidas, como quem busca encontrar chifres em cabeça de cavalo.

Vejamos o caso das frentes partidárias. O noticiário frequentemente cobra de partidos coligados identidade ideológica. Nada mais falso, pois se é certo que toda corrente política traduz no pensamento e no modo de agir determinada ideologia (projeção da realidade conforme interesses de classes ou de segmentos de classes definidos), igualmente certo é que a esfera da política concreta lida com variáveis e motivações mais amplas e diversas. Por isso um partido político assumidamente compromissado com o projeto histórico do proletariado, por exemplo, pode, e deve, na luta concreta, identificar pontos de convergência com outros de matriz ideológica distinta, e com eles somar esforços em função de objetivos de curto e médio prazo, formando o que se convencionou chamar de frente ou coligação partidária.

Em consequência, no âmbito de uma frente é possível sim, e necessário, explicitar diferenças e discrepâncias entre os partidos que a integram. Estão juntos, porém não abrem mão de sua autonomia e independência. É por aí que se pode ter uma frente viva, pulsante, crescentemente fortalecida mediante o debate em torno de propostas e alternativas de ação. Fora disso, a frente não passa de ajuntamento eleitoral.

Agora mesmo, diante das eleições municipais, aqui e em toda parte do País se debate alternativas táticas, mormente em lugares onde o confronto entre forças políticas opostas tende a ganhar dimensão maior e o pleito se dará em dois turnos. Apreciada a correlação de forças real e em perspectiva, é lícito que se cogite de enfrentar o embate com todos juntos desde o início ou com mais de uma candidatura. Vale para a situação, vale também para a oposição.

Duas chapas ou mais nem sempre significa divisão da frente estabelecida. Caso de São Paulo, a principal capital do País. Partidos como o PCdoB, o PT, o PSB, o PMDB, o PDT e outros, integrantes da base de sustentação do governo Dilma e, portanto, partícipes de uma mesma coalizão nacional, marcharão com candidaturas próprias no primeiro turno no pressuposto de que esta será a melhorar maneira de arrostar a candidatura da direita, representada pelo ex-governador José Serra, reservando a união de todos a um provável segundo turno.

A Frente Popular no Recife vive situação que pode vir a se desdobrar de modo semelhante. Diferentemente do pleito passado, as forças que elegeram o atual prefeito, João da Costa, poderão permanecer juntas ou marchar com duas candidaturas. Na segunda hipótese, dificilmente essa opção tática significaria uma fissura irremediável entre os partidos aliados.

Daí porque o debate em torno do assunto há que prosseguir com tranquilidade e paciência.

Nenhum comentário: