Luciano Siqueira
Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)
Quem vai muito além das aparências termina encontrando a verdadeira essência das coisas, na análise dos fatos, das opiniões, do comportamento das pessoas. Na política isso é tão necessário quanto indispensável. Mas é errado e estéril interpretar o que ocorre segundo ideias preconcebidas, como quem busca encontrar chifres em cabeça de cavalo.
Vejamos o caso das frentes partidárias. O noticiário frequentemente cobra de partidos coligados identidade ideológica. Nada mais falso, pois se é certo que toda corrente política traduz no pensamento e no modo de agir determinada ideologia (projeção da realidade conforme interesses de classes ou de segmentos de classes definidos), igualmente certo é que a esfera da política concreta lida com variáveis e motivações mais amplas e diversas. Por isso um partido político assumidamente compromissado com o projeto histórico do proletariado, por exemplo, pode, e deve, na luta concreta, identificar pontos de convergência com outros de matriz ideológica distinta, e com eles somar esforços em função de objetivos de curto e médio prazo, formando o que se convencionou chamar de frente ou coligação partidária.
Em consequência, no âmbito de uma frente é possível sim, e necessário, explicitar diferenças e discrepâncias entre os partidos que a integram. Estão juntos, porém não abrem mão de sua autonomia e independência. É por aí que se pode ter uma frente viva, pulsante, crescentemente fortalecida mediante o debate em torno de propostas e alternativas de ação. Fora disso, a frente não passa de ajuntamento eleitoral.
Agora mesmo, diante das eleições municipais, aqui e em toda parte do País se debate alternativas táticas, mormente em lugares onde o confronto entre forças políticas opostas tende a ganhar dimensão maior e o pleito se dará em dois turnos. Apreciada a correlação de forças real e em perspectiva, é lícito que se cogite de enfrentar o embate com todos juntos desde o início ou com mais de uma candidatura. Vale para a situação, vale também para a oposição.
Duas chapas ou mais nem sempre significa divisão da frente estabelecida. Caso de São Paulo, a principal capital do País. Partidos como o PCdoB, o PT, o PSB, o PMDB, o PDT e outros, integrantes da base de sustentação do governo Dilma e, portanto, partícipes de uma mesma coalizão nacional, marcharão com candidaturas próprias no primeiro turno no pressuposto de que esta será a melhorar maneira de arrostar a candidatura da direita, representada pelo ex-governador José Serra, reservando a união de todos a um provável segundo turno.
A Frente Popular no Recife vive situação que pode vir a se desdobrar de modo semelhante. Diferentemente do pleito passado, as forças que elegeram o atual prefeito, João da Costa, poderão permanecer juntas ou marchar com duas candidaturas. Na segunda hipótese, dificilmente essa opção tática significaria uma fissura irremediável entre os partidos aliados.
Daí porque o debate em torno do assunto há que prosseguir com tranquilidade e paciência.
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