Luciano Siqueira
Publicado no portal Vermelho e no Jornal da Besta Fubana
Aconteceu há uns poucos anos atrás. Como de costume, oferto uma rosa vermelha às mulheres de casa e às que comigo batalham no dia a dia, no ambiente de trabalho. Para marcar a data, densa em significados, com afeto, cumplicidade e espírito guerreiro. Rosas vermelham traduzem bem querer e luta.
Era dia de faxina doméstica. Ofertei também uma rosa para ela, com um abraço fraterno e palavras de reconhecimento e incentivo. Olhou-me com espanto. Balbuciou palavras que não conseguiu pronunciar além de um tímido “muito obrigado” e afastou-se nervosa, o rosto em lágrimas. Um choro abafado, contido. “- Vou completar cinquenta anos e é a primeira vez que recebo uma rosa vermelha em toda a minha vida”, confidenciou depois.
Foi como se ela se descobrisse de repente alvo de um carinho jamais experimentado. Daquela forma, com aquelas palavras e aquele gesto. Tal como acontece com milhões de marias mundo afora, vitimas do desamor ou objeto de um querer apenas superficial, incompleto.
Através de gestos simples como aquele ou de manifestações coletivas, o 8 de março há que ser um misto de comemoração e combate. Comemoração pelas conquistas alcançadas em três décadas de impulso da luta feminista, no Brasil e em outras terras. De combate renovado em busca de novas conquistas, pois a luta é ingente e de longuíssimo curso. A desigualdade de gênero está fincada em sólidas raízes históricas, econômicas e culturais. A emancipação da mulher implica múltiplas trincheiras – nas relações de trabalho, na vida social e política, no confronto de ideias.
Não basta o reconhecimento de que a condição feminina impõe direitos específicos consignados na Constituição. Nem a gama de políticas públicas traduzidas em programas de atenção à mulher adotados pelo poder público nas três instâncias federativas. É preciso fazer permear as atividades protagonizadas pela mulher ou a ela destinadas pelo debate teórico e político acerca da desigualdade de gênero – suas causas, suas manifestações estruturais e cotidianas; e encontrar meios e modos de aprimorar a peleja pela igualdade.
Mais do que tudo, cabe ampliar e qualificar a presença feminina nas esferas de poder, em todos os níveis. O país hoje governado por uma mulher há que abrir espaço para que mais e mais mulheres ocupem cadeiras nas casas legislativas e nos posto de mando no Executivo.
As eleições de outubro dão azo a que as mulheres venham a obter mais cadeiras nas Câmaras Municipais. Para que tenhamos vereadoras capazes de pugnar por uma cidade mais humana, em que mulheres como aquela que um dia derramou lágrimas em minha casa por se descobrir digna de receber uma rosa vermelha possam despertar para a luta emancipacionista.
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