13 dezembro 2012

Um traço de desumanidade

População idosa: conquista e desafio
Luciano Siqueira

Publicado no Blog da Folha e no Blog Algomais

Muda o perfil etário da população brasileira. Com a ampliação da expectativa de vida, que agora se estima em 74 anos de idade, o percentual dos indivíduos considerados idosos cresce anualmente. Uma conquista e, ao mesmo tempo, um desafio.

De fato, em apenas cinco décadas, a população brasileira aumentou quase três vezes: passou de 70 milhões, em 1960, para 190,7 milhões, em 2010. E, permeando esse crescimento populacional, destaca-se a população idosa. Em 1960, 3,3 milhões de brasileiros tinham 60 anos ou mais e correspondiam a 4,7% da população. Em 2000, 14,5 milhões, ou seja, 8,5% dos brasileiros estavam nessa faixa etária. Na década seguinte, o salto foi maior ainda: em 2010, 10,8% da população (20,5 milhões). Isto de acordo com os censos demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 1960, de 2000 e de 2010.

Desafio para o sistema de saúde, que agora tem que se desdobrar para dar conta da atenção específica à população idosa, que requer uma gama de serviços e de atenção que implica em meios diagnósticos e modos de tratamento, a prevenção de determinadas patologias e, sobretudo, a promoção de uma vida digna. Ainda segundo o IBGE, 3 em cada 4 idosos têm alguma doença crônica.

Doenças cardiovasculares, diabetes, enfisema pulmonar ar e bronquite crônica, Mal de Alzheimer e outras formas de senilidade, hipertensão arterial, osteartrose e catarata são males que mais acometem o idoso.

O idoso sofre em nosso País. Dias atrás, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República revelou que as denúncias de violação a direitos humanos dos idosos registradas pelo Disque 100 entre janeiro e novembro deste ano aumentaram 199%, cotejadas com o mesmo período de 2011: há um ano, 7.160, este ano 21.404.

Assim mesmo, cabe anotar o subregistro nesses casos, uma vez que o Disque 100 é algo recente. E sabe-se do receio de boa parte das pessoas afetadas de efetivamente denunciaram maus tratos, em função de possíveis represálias por parte dos denunciados. Tanto que, em geral, a denúncia de agravos é feita por terceiros.

O Estatuto do Idoso, vigente desde setembro de 2003, ainda não é efetivamente levado em consideração nas relações sociais. Demais, não existe ainda uma rede assistencial estabelecida para a atenção a essa faixa da população.

Agrava esse cenário o fato de que sofrem não apenas os idosos pobres e de famílias de baixa escolaridade. Sofrem idosos de todas as camadas da sociedade, uma vez que os brasileiros ainda não aprenderam a conviver e a respeitar os indivíduos que alcançam idade avançada. A solidão talvez seja o mais grave dos acometimentos: o idoso sente-se só ambiente familiar, relegado a um papel secundário.

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