Encontros
e desencontros
Tadeu
Colares
Tenho
o costume de quando vou ao Recife Antigo ou ao um shopping (?) de vistoriar
sempre livros nas livrarias Cultura ou Saraiva.
Ontem
à noite fui a um cinema e enquanto esperava a hora fui à livraria Saraiva. E
comecei a minha vistoria tradicional ou "garimpagem intelectual" como
chamo. Dei de encontro com um rapaz jovem, funcionário da loja e perguntei
sobre um livro recém lançado, mas que a livraria ainda não havia recebido,
respondeu-me ele. Neste caso pedi uma sugestão de um livro lançado recente.
Habilmente me sugeriu um livro de Mario Vargas Llosa: “A Civilização do
espetáculo". Folheei as "orelhas" e resolvi comprá-lo.
Hoje
abri o Canal Curta (na GVT é o 83) e me deparei com a apresentação de uma
antiga entrevista intitulada "Sartre
por ele mesmo".
Nesta
entrevista Sartre discutia com vários interlocutores idéias contidas em seus
livros e postas em confronto. Idéias surgidas a partir da "Guerra
Espanhola" ou da Revolução Republicana Espanhola massacrada pela
intervenção direta de Hitler através da aviação alemã.
No
dia anterior havia comprado o último exemplar da Revista Carta Capital que
tratava justamente do livro que haveria de procurar na Saraiva.
Agora
direto ao ponto: na entrevista com Sartre, duas frases me chamaram a atenção.
"Mentimos porque achamos que a
palavra é portadora da verdade" e "O silêncio é reacionário".
Sartre tratava do dilema, na época, de participar ou não da resistência militar
contra o ditador espanhol General Franco.
Ainda
à noite, de volta, resolvi dar uma lida no livro que inicia com uma exposição
sobre o conceito de cultura que segundo o autor é bem diferente do seu tempo de
escola ou universidade. Aqui temos o encontro ou desencontro da reportagem
capa, da revista com as do livro de Vargas e com as do livro que procurava
"Operação Banqueiro"
de Rubens Valente, onde o autor segundo uma análise de Renato Pompeu desvenda
as intricadas relações do banqueiro Daniel Dantas com vários personagens políticos
ou não.
Nesta
trindade da reportagem capa da Revista, do livro "Operação Banqueiro”, do livro de Vargas Llosa, "A civilização do espetáculo" e
a entrevista com Sartre, me veio a idéia de que as duas frases citadas por
Sartre tinham tudo a ver e se interligam com os temas de ambos os livros:
no "Mentimos porque achamos
que a palavra é portadora da verdade" e "O silêncio é reacionário",
que nos lembra o nosso "reacionário" assumido, Nelson Rodrigues.
Aqui estão dois livros que tratam de formas
diferentes de como os conceitos tradicionais ou as interpretações vão sendo
mudados ou manipulados para criar uma "nova verdade" e impingir ao público
uma versão de cunho verossímil de fatos controversos e ainda não totalmente
esclarecidos e publicados.
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