15 outubro 2016

Sentido histórico da resistência

Aos vencedores, as batatas; aos lutadores, a História!
Nilson Vellazquez, em seu blog

A magistral obra do escritor realista Machado de Assis, Quincas Borba, conta a história de Rubião, herdeiro do filósofo Quincas Borba, que, entre outras coisas houvera deixado um cachorro e um ensinamento filosófico ao qual a personagem denominava "Humanitismo", traduzida na seguinte frase: "Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas".
O "Humanitismo" que a personagem defendia, consistia, entre outras coisas, na certeza de que o vencedor sempre será o mais forte, ou que, mesmo com uma vitória momentânea, os prêmios, muitas vezes, podem ser apenas mais combustíveis para continuar lutando e/ou vencendo. Ainda conforme Quincas, "a paz, nesse caso, é a destruição, a guerra é a conservação".
O que Machado de Assis, ao criar esse romance, não imaginaria é que o gosto das batatas dos tempos atuais fosse se tornar tão amargo para os vencedores. Afinal de contas, que sabor deverá ter a vitória obtida da forma que os golpistas brasileiros estão tendo neste momento?
Com certeza, o sabor das batatas que os golpistas obtiveram recentemente, pelo menos, deve ser melhor do que o gosto amargo da derrota que as forças de esquerda vem sofrendo desde 2014 no Brasil, apesar de ter conquistado, nas urnas, o direito de conduzir os rumos do país por mais 4 anos, interrompidos de maneira drástica pelas forças mais conservadoras do país.
No entanto, ao sabor amargo da derrota, juntam-se anos de lutas travadas pelas forças progressistas no país. Vitórias e derrotas - mais estas do que aquelas - marcaram a existência das forças que lutam por soberania nacional, antes mesmo do Brasil se tornar uma República, mas sobretudo depois de ter-se tornado e, ainda mais pós Revolução de 30.
Nesse período de República no país, várias foram as gerações que tiveram de resistir a uma maneira brutal de exercício da hegemonia econômica e ideológica praticado pelas forças dirigentes do país. 
Tivemos que conviver com duas ditaduras, com diversas tentativas - e realizações - de golpes, mas que sempre tiveram, mesmo nos momentos mais difíceis, a marca indelével da resistência e da persistência na luta pela democracia e soberania nacional.
Esses lutadores que por aqui passaram, incluindo-se aí todos os que derramaram seu sangue e viram suas vidas desmoronarem, devemos uma atuação tão corajosa quanto. Nos tempos de hoje, acentuados pela intolerância de parte considerável da classe trabalhadora, a resistência deverá ser a nossa maior forma de lutar.
Isso significa que, num período histórico em que houveram pouquíssimos espasmos de democracia no país, cada geração, com sua particularidade soube conduzir a resistência das forças populares e de esquerda do país. Cabe, portanto, a esta geração de militantes, dirigentes e demais lideranças protagonizarem o momento de sua geração e liderar a resistência, retornando a um maior diálogo com a população no geral, sempre no sentido de deslindar a essência dos fenômenos históricos e atuais.
O resultado do primeiro turno das eleições municipais é mais um dado de que o período não será fácil para a esquerda no país, obrigada, agora, além da defensiva estratégica, uma defensiva tática, cujos efeitos ainda serão sentidos a médio prazo.
No entanto, às forças progressistas cabe honrar a luta de todos aqueles que foram e que lutaram para que vivêssemos, mesmo por pouco tempo, períodos de verdadeiras conquistas sociais que não podem ser desmoronadas de uma hora pra outra. Tudo isso precisa ser realizado com ânimo e disposição para a luta, pois a o julgamento da história, este sim é implacável. Diante disso, a primeira atitude deve ser a de não se esconder, de não se envergonhar de tudo o que construímos nesse momento, pois como disse Darcy Ribeiro, "fracassei em tudo na vida. Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu."

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