Economia sem direitos sofre de anemia congênita
Luciano Siqueira, no Blog da Folha
A economia vai bem — assegura a
cantilena oficial.
Vai bem pra quem? — pergunta o cidadão
comum.
Para o Mercado, sem dúvida. Os
articulistas que o representam alardeiam a contenção inflacionária e a leve
alteração positiva no PIB e pouco se importam com o investimento público
raquítico e a atividade industrial tímida.
Vale que o rentismo registra lucros
sempre crescentes.
Nesse cenário, um dado revela a
precariedade da “melhora” da economia: a ligeira recuperação do mercado de
trabalho é puxada pelo emprego informal, sem carteira assinada — com reflexo
direto sobre a dimensão e a qualidade do consumo.
Relações de trabalho precárias não
inspiram segurança às famílias, que se inibem de voltar a consumir.
A reforma trabalhista recém-efetuada
faz seus estragos.
Assim, em 2017, foram criadas 1,8
milhão de postos de trabalho informais; enquanto 685 mil vagas foram perdidas.
Demais, registra-se que a renda média
dos sem carteira e de pequenos empreendedores, corresponde a apenas metade da renda
dos empregados formais (descontada a inflação), que são os que têm acesso ao
crédito.
Nesse diapasão, até mesmo as
excessivamente otimistas previsões de crescimento tendem a ser redimensionadas.
Na verdade, o que está em causa é o
tipo de crescimento econômico que interessa — o que se submete ao processo
global de financeirização; ou o que incorpora ao setor produtivo os milhões de
brasileiros submetidos à exclusão.
Rumos diametralmente opostos, no centro
do debate eleitoral que tende a tomar corpo.
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