Dois lances de uma
crise que se arrasta
Luciano Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10
O País segue atolado na gama de
contradições estruturais que, dentre outras variáveis, se traduz no entrechoque
permanente entre os chamados três poderes da República e nas manobras
sucessivas de um governo ilegítimo, pernicioso e rejeitado pela população.
Após o fracasso momentâneo da
pretendida reforma previdenciária — um dos itens prioritários de sua agenda
regressiva —, Temer lançou-se à aventura da intervenção militar sobre a
segurança do Rio de Janeiro.
A intervenção completa um mês sem plano
e sem recursos. A ponto do general Villas Bôas, comandante do Exército, se dizer “preocupado
pela incerteza de que vamos realmente atingir todos os objetivos”.
Preocupação procedente, tamanha complexidade
dos fatores multicausais que alimentam a violência criminal urbana, tratados
pelo recém-criado Ministério da Segurança com a superficialidade e a ligeireza
típicas da pirotecnia política.
Já o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ),
presidente da Câmara, questiona “de onde virão os R$ 3 bilhões para suprir a
demanda do interventor? Temos o Orçamento da União 100% comprometido com
despesas obrigatórias, e ninguém tem coragem de enfrentar esse tema.”
Concomitantemente, o crescimento de
conflitos armados no mês, com óbitos, cresce assustadoramente.
Na verdade, a espalhafatosa intervenção
tem a clara intenção de amenizar a desaprovação do governo pela maioria da sociedade
e, de quebra, alimentar a pretensão (agora vinda a público) do próprio Temer se
candidatar em outubro.
Outro lance — a resistência da ministra
Carmem Lúcia, presidente do STF, em pautar as prisões após condenação em
segunda instância —, revela as dificuldades da corte suprema de resguardo da
Constituição exercer o seu papel. Por pressão de seus pares, segundo se notícia
hoje, a ministra enfim cede e admite uma reunião destinada a examinar o tema.
Permeando o imbróglio, a iminência de
prisão do ex-presidente Lula, já condenado em segunda instância.
Ocorre que nessa condição, obviamente,
não está apenas o ex-presidente, mas milhares de outros brasileiros e
brasileiras, que segundo opinam muitos constitucionalistas de renome, estariam
sem o resguardo da Carta de 1988.
Entrementes, a nação perplexa se vê
envolta num oceano de instabilidade, no qual não se pode prever nada com uma
consistência mínima no sentido da superação da crise.
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