Política
fiscal-monetária e subsidio ao diesel
J. Carlos de Assis, no Jornal GGN
O
modelo de metas de inflação é uma insanidade. Ele atrela a política monetária
exclusivamente ao comportamento de curto prazo da inflação atuando na economia
de forma contracionista sem considerar as necessidades objetivas do país no
ciclo de negócios. A função monetária de garantir liquidez da economia tendo em
vista suas necessidades de expansão é ignorada. Ignora-se também outro cânone
da política monetária norte-americana, a expansão da moeda como forma de
combater o desemprego e garantir o emprego máximo.
Na Europa do
euro, o modelo de metas é um fator contracionista responsável pela virtual
estagnação das economias européias. Quem escapa disso é a Alemanha, por uma
razão óbvia: a Alemanha é tradicionalmente superavitária com o exterior, o que
significa, na vigência do euro, um fluxo permanente de moeda entrando na
economia via exportações, sustentando seu crescimento. Os políticos europeus,
ignorantes de economia, não perceberam a inevitabilidade desse processo quando
instituíram a moeda única. Agora lamentam.
O modelo
de metas, no Brasil, não possibilita a retomada da economia em tempos de
recessão e de depressão, como atualmente. Como ensinou Keynes e sobretudo Abba
Lerner, em tempos de depressão a única saída para a economia é o aumento de
gastos públicos deficitários do Governo. Isso implicaria emissão de títulos
públicos ou de moeda, contrariando direta ou indiretamente o modelo de metas. A
reação do mercado, em relação aos títulos, é de exigir taxas de juros mais
altas fazendo a política fiscal de refém.
Como ocorre
nos Estados Unidos essa relação entre política fiscal e monetária? Sim, porque
o Governo norte-americano tem sido altamente deficitário, e precisa financiar
esse déficit de alguma forma no mercado financeiro. Para que se tenha uma idéia
do tamanho dos déficits norte-americanos, ele atingiu 1,5 trilhão de dólares em
2009, 1,4 trilhão em 2010, 1,3 trilhão em 2011, 1,2 trilhão em 2012, 1,1
trilhão em 2013 e 1,0 trilhão em 2014. Só caiu do nível de um trilhão nos anos
seguintes, quando o desemprego despencara de 11 para 5%.
Não obstante
esses déficits, a taxa de juros ficou estabilizada no nível pretendido pelo
Tesouro. Em outras palavras, o ávido mercado contentou-se com taxas moderadas
para o financiamento do déficit do país. Terá sido por conta de sua elevada
consciência cívica? Certamente que não. O motivo é mais pedestre. Na medida em
que emitia títulos, o secretário do Tesouro chamava o presidente do banco
central para conversar e decidia, junto com ele, uma forte expansão monetária
para manter baixas as taxas de juros dos títulos do tesouro.
É importante
que, no período, não houve inflação, mas deflação. Óbvio, a economia estava em
forte recessão, a demanda de bens e serviços estava fraca, não havia por que
subir os preços. Essa “sabedoria” norte-americana não se aplica no Brasil.
Assim, idiotas como Marina Silva e outros, doutrinados por medíocres
economistas neoliberais, falam em tripé macroeconômico com se fosse um ser
mítico para a regular a economia eternamente, à margem de ciclos econômicos
inevitáveis. Porém, pior do que esses palpites está a institucionalidade.
A sábia
prática norte-americana rejeita o modelo de metas e o princípio da
independência do banco central. Como se viu, ele atua fortemente articulado com
o Tesouro, assim como acontece com o Banco Central da China. Modelo de metas
com independência efetiva do Banco Central, como acontece no Brasil, é uma
idiossincrasia montada por assessores e serviçais do sistema bancário privado,
e talvez também público, para forçar a subida das taxas de juros toda a vez que
há um déficit público, como também é o caso agora.
Toda essa
exposição tem um único objetivo: é um supremo contra-senso financiar subsídio
do diesel com cortes de gastos públicos, sobretudo de saúde e de educação, a
fim de não aumentar o déficit público. Aliás, já é um contra-senso estúpido, só
justificado pela obsessão neoliberal, subsidiar combustíveis quando bastaria
uma ordem à Petrobrás para reduzir os preços. Tudo isso indica que
estamos no limite de uma era. Se este Governo não cair agora, cai amanhã. Ele é
uma carga pesada demais para a população brasileira carregar.
Leia mais sobre temas da atualidade: https://bit.ly/2Jl5xwF
e acesse o canal ‘Luciano Siqueira opina’,
no YouTube https://bit.ly/2ssRlvd
Nenhum comentário:
Postar um comentário