14 agosto 2018

O jogo do poder

O partido midiático e suas escolhas
Luciano Siqueira, no Blog da Folha

Partidos são instituições bem definidas, política e juridicamente. Estejam ou não bem estruturados ideológica e organicamente, quando falham em sua missão de representar interesses de classe para os quais existem, eventualmente são substituídos por outras entidades.

Isto ocorre particularmente quanto aos interesses da elite dominante, como a história recente do nosso país o demonstra.

No período do regime militar, com os partidos extintos ou reduzidos a Arena e ao MDB (antes da permissão para que se estruturassem o PTB, o PDT e o PT), a Escola Superior de Guerra, agindo como braço ideológico e formulador da doutrina que respaldava as políticas de governo, cumpriu a seu modo o papel de partido político.

Com a redemocratização, diversos foram os partidos que se organizaram com a missão de representar as elites, sobretudo os senhores do capital financeiro crescentemente influentes.

PDS, PP, o próprio PTB sem Brizola, e adiante o PFL (hoje Democratas), PSDB e outros se colocam nessa trincheira.

Entretanto, frágeis e internamente pulverizados por grupos assentados em motivações locais e particulares, têm como referência o complexo midiático, que a semelhança da antiga ESG, ocupa o lugar de centro orientador dos partidos formais e principal difusor da ideologia dominante.

Em todos os episódios das eleições presidenciais recentes — desde o pleito de 1989 —, o sistema midiático teve peso relevante, decisivo na vitória de Collor sobre Lula e insuficiente nos últimos quatro pleitos, em que o povaréu contrariou a mídia e votou majoritariamente em Lula e em Dilma.

Agora, armado o jogo sucessório, o “partido midiático” não esconde sua preferência por Geraldo Alckmin — candidato da confiança do mercado —, demonstra não fazer muita fé em Meirelles (também da confiança do mercado) e ensaia duplo ataque a Bolsonaro, à extrema direita, e a Lula-Haddad Manuela, à esquerda, com vistas a um provável desenlace no segundo turno.

Ou seja, uma tática claramente posta a serviço de um objetivo estratégico, seguida à risca diuturnamente por comentaristas, “âncoras” e repórteres da TV, rádio, sites na internet e publicações impressas.

A pauta é a mesma, no País inteiro. E o alvo principal é Lula e a hipotética chapa substituta Haddad-Manuela.

No campo estrito da direita, no intuito de alavancar a anódina candidatura de Alckmin, dá-se um cerco a Bolsonaro que, por descuido e pela dificuldade de se encontrar em tempo hábil um nome de unidade, correu por fora e se coloca bem adiante do ex-governador de São Paulo em todas as pesquisas.

Resta verificar se o complexo midiático repetirá a proeza de 1989 ou se perderá pela quinta vez consecutiva.

Leia mais sobre temas da atualidade: https://bit.ly/2Jl5xwF e acesse o canal ‘Luciano Siqueira opina’, no YouTube https://bit.ly/2ssRlvd

Nenhum comentário: