Qual será a dele no carnaval?
Luciano Siqueira
Difícil qualificar o
presidente da República Jair Bolsonaro, tamanha a variedade de diatribes e
trapalhadas que comete quase diariamente.
Para quem se diverte com
a sátira e o deboche no carnaval, o cardápio é amplo e variado.
A história do Brasil
registra presidentes medianamente despreparados, politicamente frágeis e
intelectualmente desprovidos de uma formação adequada ao cargo. Não foram
poucos numa galeria em que o ditador general Costa e Silva pontifica.
Entretanto, a ocupação da
cadeira presidencial como que cerca o governante de certo espírito de autoridade
que o faz aderir à liturgia do cargo e a tentar se comportar adequadamente.
Mas Jair Bolsonaro reúne
todos os predicados negativos e sequer tem noção da dimensão institucional da
função que ocupa.
Bem ao seu estilo (que
seus apoiadores caracterizam como “espontâneo“), não apenas diz bobagens sobre
questões centrais da vida do país, como os rumos da economia (que
reiteradamente reconhece não compreender), como agride pessoas subvertendo
regras elementares de civilidade e se expondo à reprimenda pública e ao
ridículo.
A agressão verbal à
repórter Patricia Campos Mello, da Folha de S. Paulo, em termos chulos, expõe
ao mundo a dimensão minúscula do presidente. Ataca a democracia. Fere o decoro.
Implica processo
judicial.
Aliás,
nos dias recentes, como subproduto das baboseiras do presidente, vem subindo a
pressão oposicionista para muito além dos segmentos à esquerda. Em vários
ringues o capitão tem sido desafiado.
Vinte governadores (fato sem precedentes!), por exemplo,
divulgaram uma carta "em defesa do pacto federativo" onde refutam
declarações do presidente, feitas no último final de semana, sobre a morte do
miliciano Adriano da Nóbrega, na Bahia, de notórias ligações com a família
Bolsonaro.
Também reagem os governadores à bravata de Bolsonaro quanto
ao ICMS, ao dizer que zeraria o imposto federal sobre os combustíveis se os
gestores estaduais o zerassem também. Declaração ridícula e desprovida de
qualquer sustentação técnica.
Como em nosso país tropical abençoado por Deus muita coisa
acontece durante o reinado de Momo, há que se perguntar: qual será a dele no
carnaval?
[Ilustração: Charge de Fernandes]
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