Trump entrega o vírus a Deus e aciona máquina fake para salvar reeleição
Luiz Carlos Azenha, Viomundo
As similaridades entre Donald Trump e
Jair Bolsonaro são tantas que algumas frases deste texto poderiam ser
transplantadas para a realidade brasileira sem tirar uma vírgula.
Trump é um falastrão, que por conta
própria estabeleceu as variações da bolsa de valores como barômetro de seu
governo.
Bolsonaro promete a reconstrução do
Brasil de cima a baixo, mas de prático só produziu um Pibinho que ele próprio
já disse ao ministro da Economia não ser suficiente para a reeleição em 2022.
A obsessão de ambos, Trump e
Bolsonaro, é “reeleição acima de tudo”.
Favorito nos Estados Unidos, de
repente Trump se vê diante de uma ameaça real: uma recessão que tornaria muito
mais difícil sua empreitada.
O problema imediato é o coronavírus.
Na entrevista coletiva em que indicou
o vice-presidente Mike Pence como czar para a emergência, Trump chegou a
sugerir que os Estados Unidos, então com 15 casos confirmados, poderiam se ver
livres da epidemia de um dia para o outro, como num passe de mágica.
Puro wishful
thinking.
Os americanos dispõem de duas
instituições de grande credibilidade para enfrentar o problema: o National
Institutes of Health (NIH) e o Centers for Disease Control (CDC).
Assim que assumiu o poder, Trump
cortou verbas e desmobilizou um comitê importante que poderia ajudá-lo a
enfrentar pandemias — assim como Bolsonaro, ao manter o teto de gastos que
herdou de Michel Temer, vem enfraquecendo o Sistema Único de Saúde.
Ambos, Trump e Bolsonaro, questionam
aspectos da Ciência — notadamente o aquecimento global — e abraçam a religião
da boca para fora, enquanto abraçam terraplanistas.
Mike Pence, o czar do coronavírus, já
duvidou dos males causados pelo cigarro, negligenciou o combate à AIDS quando
governador de Indiana e sugeriu orações para resolver problemas médicos.
O problema imediato de Trump, diante
da queda da bolsa americana em, é calar as manchetes.
Os cientistas do NIH e do CDC agora
precisam pedir autorização à vice-presidência antes de dar entrevistas sobre o
coronavírus.
Além disso, Trump turbinou a campanha
de sua base para acusar os democratas e a imprensa de alarmismo sobre a chegada
do vírus nos Estados Unidos.
Os robôs americanos estão a todo
vapor dizendo que o problema é a CNN, não o coronavírus.
Mas os problemas da economia
americana, exatamente como no Brasil, vão muito além do vírus.
Aqui, o desemprego se mantém em dois
dígitos e a grande conquista de Bolsonaro foi ter produzido milhares de
colocações precárias no Uber e no IFood — o Brasil se tornou o país do bico.
Nos Estados Unidos, a economia de fato
cresceu — 2,3% em 2019 — mas às custas da expansão do déficit do governo para
U$ 1 trilhão.
Neste caso, os neoliberais permanecem
em silêncio quase absoluto.
A medida mais importante de Trump foi
cortar impostos das grandes corporações.
A pergunta que se faz agora: pode o
coronavírus causar recessão nos Estados Unidos?
A resposta está em aberto.
No debacle de Wall Street chamou a
atenção de observadores o fato de que as ações de bancos despencaram tanto
quanto ou mais que as de empresas que de fato tem sido prejudicadas por
problemas originários da China.
As ações do JP Morgan, por exemplo,
caíram 6,95% só na sexta-feira.
“Por que as ações de bancos estão
piores que as de empresas que experimentam problemas na cadeia de fornecedores
por causa do coronavírus? Outros dados do mercado sugerem que há um problema
crítico nas garantias das dezenas de trilhões de dólares que eles negociam em
derivativos”, escreveram Pam e Russ Martens no conhecido Wall Street On
Parede.
O Morgan, por exemplo, segura U$ 54,9
trilhões de dólares em derivativos.
Num cenário de recessão, empresas
penduradas em papéis ruins seriam as primeiras a abrir o bico, colocando em
risco o sistema bancário — uma reprise de 2008.
Trump já conseguiu do Banco Central
americano a promessa de cortar juros para não deixá-lo na mão em plena campanha
eleitoral, embora os juros já estejam baixíssimos.
Ele calou cientistas e certamente
conta com a demonização da mídia para tentar controlar o noticiário sobre o
coronavírus.
Mas, contra a realidade da epidemia,
o poder de Trump é limitado: os Estados Unidos tiveram a primeira morte por
coronavírus no estado de Washington.
Além disso, na costa Oeste, existem
casos da doença não relacionados a pessoas que viajaram para a China ou outros
paises da Ásia.
Isso significa que pode ter havido
transmissão assintomática ou falha no sistema de monitoramento do vírus, o que
vai prejudicar o acompanhamento e o controle da epidemia.
O melhor que Trump pode fazer é orar.
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