22 agosto 2025

Conflito árabe-israelense: uma opinião

Israel e Palestina, deixando claro: uma visão da História
Frederico Jayme Katz e Abraham Benzaquen Sicsu  

Somos totalmente a favor de um Estado Palestino soberano com autonomia de decisão. Seu povo o necessita. Ao lado de um Estado Judeu democrático e seguro. Somente dois Estados podem resolver a situação conflituosa que persiste na região, com perspectivas de desenvolvimento para todos, a largo prazo. 

No entanto, posições panfletárias, acusações com viés ideológico e preconceitos escamoteados, pouco ajudam para a efetivação desse cenário, ao contrário, muito prejudicam.

Fundamental ter em mente os fatos históricos que levaram ao atual conflito, sem justificar o volume de atrocidades a que se chegou. Entender que a origem do conflito tem história que não pode ser ignorada.

Cronologicamente, lembremos alguns fatos que estão ligados à questão em foco.


Tempos bíblicos- antes do surgimento da Palestina

Existiram, durante longo tempo, os Reinos de Israel e de Judá em áreas onde hoje está o estado de Israel. As populações destes Reinos eram referidas como Judeus. Lá construíram a cidade de Jerusalém e seus templos. Ainda antes do início da Era Cristã (EC), o Império Romano conquistou aquela região e muitos outros territórios. Os Judeus nunca se conformaram com o domínio Romano e fizeram diversas tentativas de reconquistar sua independência. Os Romanos, após derrotarem inúmeras destas tentativas, resolveram dar um fim a estas insubordinações. Após mais um episódio revolucionário dos Judeus contra Roma, por volta do ano 70 da EC, o Império adotou uma ‘política de terra arrasada’. Destruiu o Segundo Templo, boa parte das construções de Jerusalém, e procurou dispersar a população Judaica para fora de seus domínios. Mas, para tornar essa dispersão efetiva e definitiva, era igualmente importante, politicamente, tentar fazer esquecer o passado. Como diz o Chat GPT: “Reforçando símbolos que dissociavam o território da tradiç&atil de;o judaica.”

Assim, poucas décadas depois, o Imperador Romano Adriano fez construir uma nova cidade onde era Jerusalém, e lhe deu o nome de “Aelia Capitolina”. ‘Aelia’ era uma referência a si próprio, e ‘Capitolina’ a Júpiter Capitolino, o mais importante deus Romano. Para a Judéia adotou o nome de “Syria Palaestina”. A primeira palavra referente ao nome de um espaço regional próximo, e a segunda o nome de um povo já extinto que vivera na região, os Filisteus. Os arrancados de sua terra se espalharam para muitas novas regiões, iniciando um movimento que se tornou conhecido como a “Diáspora”. Aonde chegavam eram identificados como “Judeus Errantes”. E o nome, Síria Palestina, foi se fixando através dos tempos.

Judeus Errantes

Ao longo dos séculos seguintes, os Judeus Errantes foram se espalhando pelo mundo. Como é natural, usualmente intrusos, não eram muito bem recebidos. Aonde chegavam, em geral, não tinham acesso a terras. Esta falta de raízes os lançava para as atividades de comércio e na área de serviços. Nos lugares onde se praticava uma tolerância mínima, se fixaram. Por outro lado, como tinham uma tradição de viagens e mudanças, estavam mais bem posicionados do que os povos locais para o comércio. Então, nos lugares onde conseguiam ficar mais longamente, acontecia de alguns prosperarem. Dentre estes, alguns conseguiam transformar seu capital comercial em capital financeiro. Passavam a fazer empréstimos e outros tipos de transações. Mais uma vez, os contatos que ainda tinham em lugares distantes possibilitaram, por exemplo, transferências e pagamentos até fora do país. E as possibilidades de lucros e de acumulação se ampliaram. Obviamente, se por um lado, este enriquecimento de alguns “Judeus Errantes” podia lhes abrir fantásticas oportunidades de negócios, por outro lado, podiam terminar por gerar inveja e cobiça. Estas facetas brilha ntes e funestas se sucederam muitas vezes nos milênios de peregrinação dos Judeus. No início do segundo Milênio foram expulsos da Inglaterra, algum tempo depois tiveram séculos brilhantes quando do domínio Muçulmano na Península Ibérica. Logo após o recuo Muçulmano iniciou-se a nefasta “Inquisição”, primeiro na Espanha e depois em Portugal, não só atacando e destruindo interesses dos Judeus, como também conhecimentos científicos e técnicos de interesse geral. A “Inquisição” empurrou os Judeus para as Américas e para o Norte da Europa. Criaram-se os “Guetos” e muitos outros tipos de restrições aos Judeus. O Império Russo Czarista também deu muita contribuição à faceta funesta com a criação das perseguições e morte s pelos ‘Pogroms”. Apesar de todos estes elementos perversos, a comunidade Judaica conseguiu continuar a sobreviver através dos séculos. 

Durante as duas ou três últimas décadas d o Século XIX, e as décadas iniciais do Século XX, a ideologia de Esquerda avançou em muitas partes do mundo. Assim, a autodeterminação dos povos, a descolonização e problemas correlatos, tornaram-se temas muito estudados e discutidos. O primeiro destes, obviamente, atraiu grande interesse dos “Judeus Errantes”. Pois, era um povo que há muito sofria, sem pátria, e que se achava, naturalmente, no direito de imaginar que, quando tivesse terra sua, essa ‘maldição milenar’ seria superada.

Foi quando, por um lado, ocorreu uma significativa adesão de Judeus à ideologia Socialista, principalmente na Europa do Leste, onde alguns entre estes desenvolveram carreiras brilhantes. Particularmente, o que atraia uma parte dos Judeus para esta ideologia, era a ideia de que, com o fim do capitalismo, da sociedade de classes, todas as outras d iferenças entre as pessoas seriam extintas ou minimizadas, e o antissemitismo também se tornaria sem importância. Daí para frente, os Judeus seriam apenas mais um dos segmentos ‘normais’ da população, e o ciclo de ‘maldição milenar’ se fecharia. Já em 1928 a União Soviética destaca uma região, ‘Birobijan’, no extremo leste da Sibéria para se tornar território Judaico. O tempo mostrou que este caminho e esta “solução” não tiveram grande sucesso.

Aparecimento da ideia sionista

Por outro lado, uma grande parte dos Judeus se sentiu atraída por uma proposta diferente. O mais importante dos criadores da idéia foi Theodor Herzl, que lançou em 1896 o livro “O Estado Judeu”. Propunha que o povo Judeu se concentrasse em uma região onde ainda não funcionasse um Estado e ali criasse o ‘Lar Judaico’. Inicialmente pensou-se em diversos lugares para tal. Desde a Patagônia até regiões coloniais na África. Não deve ser surpresa que alguns dirigiram suas atenções para a Síria - Palestina. A região não tinha um Estado constituído, sendo parte do Império Otomano. Sua população era em maioria composta por Árabes Muçulmanos, que conviviam com minorias Judaicas, Cristãs e outras. As especulações sobre as possibilidades de nesta região se resolver o problema dos Judeus Errantes, logo trouxeram à memória locações como Jerusalém e o Monte Sion, tradicionalmente veneradas pelos Judeus. Daí que esta solução para o “Problema Judaico” tomou o nome de Sionismo. Nestas décadas do Século X IX e XX ocorreram congressos mundiais de Judeus fortalecendo a proposta Sionista. Com a divulgação da hipótese desta solução, verificou-se um incremento da migração Judaica para a região. Judeus do mundo todo, pobres ou ricos, direcionaram recursos para a compra de terras de proprietários Árabes absentistas. Com o passar do tempo ocorreram atritos entre a população Árabe e Judaica.

Duas guerras mundiais e a fundação do Estado de Israel

Durante a primeira guerra mundial, o Império Otomano foi um dos derrotados e seus domínios territoriais no Oriente Médio foram transferidos para a França e a Inglaterra. A área que estamos focando transformou-se em um Protetorado Britânico. Já durante a Segunda Guerra Mundial ocorreu o Holocausto. Este forte evento inflamou a necessidade da solução do “Problema Judaico”. Também, aumentaram muito as tentativas de migração de Judeus para o Protetorado Britânico. Esta era, com maior ou menor vigor, combatidas e impedidas pelos Ingleses. Não obstante, a quantidade de Judeus na Síria - Palestina aumentou significativamente. Formaram-se ali grupos de Judeus armados que se dedicaram a defender sua população civil e a atacar posições inglesas. Havia grupos mais à Esquerda ou muito à Direita. Todos estes fatores e causas levaram a que, em 1947, fosse levada à votação na Assembleia Geral da ONU, a divisão do antigo Território do Protetorado Britânico da Síria Palestina em dois países: Israel e Palestina. Houve 33 votos a favor da proposta, incluindo a União Soviética, outros países Socialistas e os EUA, 13 votos contra, principalmente de países Árabes, e 10 abstenções. De imediato Israel fez saber à ONU que aceitava a proposta. Os Palestinos não se manifestaram, enquanto que, imediatamente, os países Árabes próximos como o Egito, a Transjordânia, a Síria, o Líbano e o Iraque declararam guerra a Israel e invadiram o novo país. Outros países Árabes, como a Arábia Saudita e o Sudão, por exemplo, também colaboraram no esforço de guerra. Israel ganhou esta guerra. É bom lembrar que contou com o apoio de armas cedidas por países Socialistas a exemplo da Tcheco Eslováquia. Segundo relatos Israelenses, os países Árabes ao invadirem Israel, mandaram os Palestinos se retirarem da área, pois iriam empurrar todos para o mar. Os relatos Palestinos dizem que, na verdade, foi Israel que expulsou do seu território centenas de milhares dos seus. A verdade pode estar no meio do caminho. O que é fato, porém, é que logo em seguida à derrota na guerra, os países Árabes também expulsaram de seus territórios centenas de milhares de Judeus. Boa parte destes refugiados judeus se fixou em Israel. Ao longo do tempo, seguiram-se inúmeras guerras de países Árabes contra Israel com vantagem para este. Também neste período foi feita a paz entre Israel e o Egito e Jordânia.

Criação do Hezbolah e do Hamas

Os muitos milhares de Palestinos que, de uma maneira ou de outra foram expulsos de Israel, não foram absorvidos nos países Árabes. Foram alocados em acampamentos precários onde vivem há décadas. Esta vida miserável dos sem-terra Palestinos, naturalmente gerou entre eles muita revolta. Este e stado de coisas propiciou a criação de grupos revolucionários, participantes de um “Eixo de Resistência”. Eram contra o ‘status quo’, onde de um lado estavam em péssima situação, em contraste com a população do Estado de Israel onde se gozava de muito melhores condições de vida. Além das diferenças políticas, pois continuavam como refugiados enquanto que os Judeus criaram seu próprio Estado onde tinham o status de cidadãos. Nos primeiros anos da década dos 80, milhares de Palestinos, que saíram principalmente dos acampamentos na Jordânia, aproveitaram o caos da guerra civil no Líbano, entre árabes, cristãos e drusos, e ali se instalaram. Uniram-se com a população Xiita do país. Depois de alguns anos de ação mais difusa, c onstituíram em 1985, formalmente, o grupo Hezbollah. Em seu Manifesto Fundacional declararam como seus objetivos: A luta contra a ocupação israelense (na época do Sul do Líbano), A lealdade ao Irã e ao aiatolá Khomeini e a criação de uma república islâmica nos moldes do Irã. O Hezbollah, com forte colaboração Iraniana, desenvolveu uma poderosa ala militar, mais forte que o próprio exército Libanês. Foi responsável por ataques significativos contra alvos israelenses e ocidentais, especialmente nos anos 1980 e 1990. A partir dos anos 1990, passou a integrar o sistema
político daquele país, e tornou-se um dos partidos mais influentes do Líbano, com representantes no parlamento e ministros no governo. Em Gaza, o contexto de grande instabilidade e insatisfação com a situação, igualmente começou a gerar a aglutinação de grupos insatisfeitos e revoltosos. Entre estes se destacou o Hamas, ou "Movimento de Resistência Islâmica", que surgiu no final da década de 1980.  No ano  de 1987, na faixa de Gaza é então fundado este grupo político. O que permitiu que este grupo Palestino crescesse superando a OLP (Organização para a Libertação da Palestina) foi o fato de que a OLP era vista cada vez mais  como distante e ineficaz na luta contra a ocupação israelense. Enquanto que a OLP tinha uma abordagem mais secular e nacionalista o Hamas propunha uma alterna tiva religiosa. Este ponto, a valorização do aspecto religioso, o aproximou do Irã, superando até a diferença Xiita versus Sunita. Então, o Hamas como contava com generoso  apoio Iraniano lançou-se em Gaza oferecendo serviços como escolas, hospitais e assistência a famílias carentes. Naturalmente, conquistou amplo apoio popular. Logo passou a realizar ações armadas contra Israel com o objetivo de "libertar toda a Palestina" e estabelecer um Estado Islâmico no lugar de Israel. Em 1988 publicou sua Carta de Fundação que declarava que: Israel deve ser destruído, A Palestina é Terra Santa e não pode ser negociada  e a luta armada é o caminho principal para a libertação. 


Encontro de Oslo

Seguiram-se diversos enfrentamentos entre Israel e os Palestinos, e muitas tentativas de acordo. Até que, em agosto de 1995, ocorreu um fato que prometia ser um marco no processo de paz na região. Sob a coordenação de Bill Clinton, encontraram-se em Oslo o Primeiro Ministro de Israel, o Trabalhista, Yitzhak Rabin, com o l&iacu te;der Palestino Yasser Arafat. Após alguns dias de discussões, foi definido e assinado um importante acordo que continha compromissos de ações, de ambas as partes, que levariam a paz na região. O acordo incluía a constituição do Estado Palestino. Infelizmente, este momento positivo mudou rapidamente de face. Em novembro de 1995, decidiram fazer uma manifestação/comício em Tel Aviv, para comemorar o Acordo de Oslo. Durante o evento, um jovem Judeu 'Ortodoxo' israelense, Ygal Amin, atirou em Yitzhak Rabin e o matou. Comenta-se que o mesmo acreditava em uma lenda dos credos fanáticos, que considerava que o Primeiro Ministro era um ente satânico que tinha que ser morto antes que fizesse um grande mal a Israel. Mas, Além da morte deste líder pela paz, houve outras conseqüências negativas. Antes de seguir o relato vale a pena comentar um ponto. Alguns analistas consi deram que ali, entre Israel e Palestinos é possível ver o funcionamento de um fenômeno singular. Por vezes se constata que certas atitudes de grupos terroristas Palestinos, mesmo que não intencionalmente, beneficiam grupos pró guerra de Israel. O inverso também ocorre em outros momentos como veremos no episódio narrado a seguir. Sigamos com o relato. Haviam eleições previstas para serem realizadas em Israel em maio de 1996 e Rabin era o franco favorito. Com a sua morte, o Partido Trabalhista lançou em seu lugar Shimon Peres. Tratava-se de um político com excelente imagem em Israel e no mundo. A vantagem eleitoral diminuiu um pouco, mas continuou favorável aos Trabalhistas. Sentindo que talvez se abrisse uma chance para um candidato mais à direita e mais afastado da trilha para a paz, grupos terroristas Palestinos lançaram diversos ataques suicidas em Israel. Estes ataques se intensificaram entre fevereiro e março de 1996. Por outro lado, o candidato da direita Benjamin Netanyahu, passou a dar ênfase em sua campanha a promessas guerreiras e de vingança contra os Palestinos. A vantagem eleitoral do Trabalhista foi caindo e o resultado das eleições em maio de 1996 foi Netanyahu com 50,5% por cento dos votos e Peres o Trabalhista com 49,5% dos votos. A diferença foi mínima, de apenas 29 mil votos. Mas a virada à direita dos governos israelenses aconteceu para perdurar por anos.

Não devemos esquecer, no entanto, uma importante tentativa de resolução da situação, em 2000, que, infelizmente fracassou. O então primeiro-ministro israelense, o trabalhista Ehud Barak, faz uma tentativa para retomar as negociações de Paz. Propõe um Estado palestino na Cisjordânia e Gaza, com Jerusalém Oriental como capital palestina e Jerusalém Ocidental como capital israelense. As divergências sobre Jerusalém dividida, sobre as fronteiras da região Norte de Israel e o direito de retorno dos refugiados palestinos em proporções que poderiam desestabilizar a sociedade israelense levaram à fortes críticas e fracasso do Plano. Pontos que até hoje podem inviabilizar um acordo de paz.

Israel sai de Gaza e entrega aos palestino

Outro episódio que vale lembrar aconteceu quase 10 anos depois, em 2005. Estava no Governo outro Primeiro Ministro de direita, Ariel Sharon. Apesar de ser favorável aos assentamentos Judaicos em terras palestinas, Sharon promoveu a desocupação israelense de Gaza em 2005. Sua decisão, conhecida como o &ldq uo;Plano de Desconexão”, foi motivada por uma combinação de razões. Inteligente e realisticamente Sharon entendeu que manter o controle sobre Gaza, com sua população palestina, de milhões de pessoas em rápido crescimento e de apenas 8000 Judeus, colocaria em risco o caráter judeu e democrático de Israel. A longo prazo, a incorporação de milhões de palestinos como cidadãos, colocaria Israel diante de uma encruzilhada cruel entre ser um estado judeu ou uma democracia. Outro problema seria manter o domínio da região, que exigiria o uso de grande quantidade de recursos militares, já que Gaza era (e é) um território hostil, densamente povoado por palestinos. Uma terceira razão diz respeito a um aspecto de política externa. Na época, o processo de paz estava estagnado. E, Sharon, considerava que Israel precisava agir logo e unilateralmente, para determinar suas fronteiras e garantir sua segurança, uma vez que não via um parceiro confiável do lado palestino (especialmente com a ascensão do Hamas e a fraqueza da Autoridade Palestina). Também havia importante aspecto de política interna. O Primeiro Ministro, de direita, pensou que, ao fazer concessões unilaterais, ele poderia enfraquecer a posição da esquerda israelense, mostrando que a direita também era capaz de tomar decisões difíceis em nome da segurança de Israel. Assim, em meio a fortes pressões internacionais para que Israel tomasse medidas demonstrando boa-fé, e assim contribuindo para a solução do conflito, iniciou-se a desocupação. No sentido de prejudicar a Autoridade Palestina vis a vis ao Hamas, Israel evacuou unilateralmente, sem avisos e sem acertos, todos os assentamentos de Gaza e retirou suas tropas em 2005, concluindo o ‘Plano’ já em agosto do mesmo ano. Registre-se que a retirada dos colonos Judeus teve muita resistência e Sharon utilizou de força para completá-la. Parte da imprensa israelense especula que houve outras ações israelenses que também atuaram no sentido do enfraquecimento relativo da Autoridade Palestina. De início a Faixa de Gaza foi governada por esta instituição. A prova do fortalecimento político e militar do Hamas, também amplamente apoiado pelo Irã, é que o mesmo já ganhou as eleições legislativas em 2006. Vale lembrar que o Irã estava se tornando uma potência militar média, que hoje fornece drones à Rússia e produz foguetes muito potentes. Em 2007 o Hamas tomou o controle pela força e, após lutas, que incluíram o assassinato de vários membros da Autoridade Palestina, essa instituição foi expulsa de Gaza.

Acordos de Abraão

Os Governos de direita se mantiveram no poder em Israel, com breves intervalos, e o processo de paz não avançou. Ao contrário regrediu. Se já houve governos de Israel que eram favoráveis a criação de um Estado Palestino, o atual governo se manifesta contra. A situação dos Palestinos continuou muit o difícil nas décadas seguintes. No entanto, piorou muito em 2023. Para melhor entender o porquê de outubro de 2023, é necessário retroceder a 2020. Foi quando entraram em cena os "Acordos de Abraão". Estes são um conjunto de acordos diplomáticos históricos assinados entre Israel e vários países árabes a partir de 2020, com a mediação dos Estados Unidos. Estes acordos declararam como seus objetivos promover a paz, cooperação econômica e estabilidade no Oriente Médio. Países árabes que não reconheciam o Estado de Israel passaram a estabelecer relações diplomáticas formais com ele. Os primeiros signatários foram Israel, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e EUA (como mediadores). Posteriormente, foram assinados tratados semelhantes com o Sudão e o Marrocos. Além do rec onhecimento mútuo entre Israel e os países Árabes signatários e estabelecimento de embaixadas, acordou-se a cooperação nas áreas comercial, de turismo e de segurança, tecnologia e saúde. Estes "Acordos de Abraão" continuam em vigor. A relação entre Israel e os países signatários se aprofundou em áreas econômicas e tecnológicas. E, muito significativo, a guerra entre Israel e o Hamas, iniciada em outubro de 2023 (abordada a seguir), gerou tensões entre Israel e seus parceiros árabes, mas nenhum país rompeu oficialmente os acordos. O que se falava na região é que havia a possibilidade concreta da Arábia Saudita assinar um "Acordo de Abraão" com Israel. Isso era absolutamente inaceitável para o Irã que tem a Arábia Saudita como seu maior inimigo Muçulmano.

Atentado terrorista de 2023

Em um período que, para a região, poderia ser considerado calmo, e sem que tivesse havido nada especial, na calada da noite e a traição, na madrugada de 7 de outubro de 2023, durante o feriado judaico de Simchat Torá, o Hamas, apoiado pelo Hezbolah e pelos Houtis do Iemen, lan&ccedi l;aram um ataque coordenado e em larga escala contra Israel, usando terra, ar e mar como estratégias de infiltração. Foi disparada uma barragem inicial com cerca de 4.300 foguetes, seguida por incursões via paragliders e veículos, com invasões em dezenas de pontos da fronteira. Estima-se que cerca de 6.000 combatentes palestinos cruzaram a fronteira. As forças atacaram 21 comunidades israelenses próximas à Faixa de Gaza. No kibutz Be'eri, mais de 100 civis e 31 agentes de segurança foram mortos, e 32 reféns foram levados. A brutalidade e os relatos de cenas chocantes tornaram esse local símbolo da crueldade do ataque. Registre-se que este Kibutz era conhecido pelo apoio em diversos campos, e pelas boas relações com os Palestinos vizinhos. Em Kfar Aza, cerca de 62 residentes foram mortos e diversas pessoas foram capturadas; o ataque incluiu relatos de decapitações, desmembramentos e queimaduras. Um dos episódios mais trágicos ocorreu no festival de música Supernova, perto do Kibutz Re'im: 344 civis e 34 agentes de segurança foram mortos, e 44 pessoas foram seqüestradas. No total, o ataque resultou em aproximadamente 1195 mortes entre civis e militares israelenses e estrangeiros, sendo 736 civis, 379 membros das forças de segurança, além de 79 estrangeiros, incluindo 36 crianças. Cerca de 250 pessoas foram feitas reféns e levadas para Gaza. Também foram registradas investidas de violência sexual, com a descrição  de casos que as autoridades se empenham em investigar. Houve relatos, inclusive, de que os militantes estariam orientados a "matar o máximo de pessoas possível", com instruções de atacar locais civis como escolas e centro s de jovens. O ataque foi descrito como o mais sangrento da história de Israel, e também classificado como “o dia mais mortal para judeus desde o Holocausto”. Essa ação inesperada é, quase que unanimemente, interpretada como uma iniciativa do Irã. Este país teria instruído seus agentes (Hamas, Hezbolah e Houtis) a deflagrar o ataque, no sentido de obstaculizar a conclusão de um “Acordo de Abraão” entre Israel e Arábia Saudita. Por outro lado, há relatos que confirmam que o alto comando Israelense manteve suas tropas despreparadas para um ataque. Será que haveria mesmo interesse do Governo Israelense na deflagração de uma guerra?

Em resposta, Israel atacou de volta de forma violenta. Já no dia 09 de outubro tinha recuperado todo seu território. A guerra desenvolve-se há quase dois anos com vítimas civis e inocentes de parte a parte. Obviamente com perdas muito maiores para os Palestinos. O ataque chocou profundamente Israel e o mundo, marcando o início de uma escalada intensa que desencadeou anos de conflito no território da Faixa de Gaza e além. Também, há que se registrar, que Nethaniau se encontrava com diversos processos contra si em estado avançado na Justiça Israelense. Estes pararam com a guerra. Além deste aspecto jurídico, naturalmente, houve ganhos políticos para o mesmo pela campanha vitoriosa do ponto de vista militar. Estes fatores são fortemente explicativos, também, do desinteresse do Primeiro Ministro em acordos para o fim da guerra. Enfim pela paz.

Conclusão

Tendo em consideração este avançar histórico, no qual se procurou ser o mais isento possível, vê-se que o atual conflito não pode ser analisado independentemente do que já ocorreu na região. Se por um lado tem que ser combatida a insanidade do atual governo de Israel, por outro, nã o se pode negar que, por inúmeras vezes, houve a intenção de criar dois Estados, a qual sempre foi rejeitada pelo lado oposto. Nesse panorama, propostas ingênuas, mesmo feitas de boa fé, sempre levam a soluções que não serão permanentes, em que o conflito ressurgirá constantemente.

Nessa direção, o que se pede são negociações realistas que possam ter efetividade a mais longo prazo. Insistir com a questão das fronteiras da resolução da ONU de 1967 não tem efetividade. Israel precisa de segurança. Impossível, por exemplo, voltar às fron teiras no norte onde pode haver constantes ataques do alto das colinas às regiões em nível de altura inferior. Também, a solução para Jerusalém deve ser negociada, os constantes conflitos e a importância atual para a sociedade israelense exigem um pacto a ser construído. Evidentemente, essas negociações levariam a vários tipos de compensações possíveis. Financeiras, por exemplo, mas não só, tecnológicas, educacionais, de logística, entre outras, compensações que permitiriam pensar em um plano de desenvolvimento mais sólido e com consistência para o país palestino a ser criado e para Israel.

O discurso nada embasado, que prospera atualmente, não se volta para a solução do problema, volta-se sim para posturas anti-semitas que se fazem disfarçar em posturas humanísticas e se expõe atualmente com toda virulência e sem perspectivas de concretização.

Pensem bem, o que se quer é resolver o problema ou levar, novamente, o povo judeu a ser o “bode expiatório” dos percalços da civilização ocidental?

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