05 novembro 2010

Meu artigo semanal no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)

A relação do mundo com o que ocorre na aldeia
Luciano Siqueira


Certa vez, tomava anotações para uma discussão sobre a conjuntura política com membros da equipe gestora da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Recife, e me veio à mente o diálogo mantido nos idos dos oitenta, quando deputado, com um professor da rede pública. O tema era o mesmo: a conjuntura política; e a intenção semelhante: da minha parte, contribuir para a compreensão de que lutamos melhor e de maneira mais consistente quando nos damos conta da dimensão universal da batalha particular que estamos travando.

No caso do grupo da atual SCTDE da Prefeitura do Recife, situar as possibilidades e limites do plano de ação estratégica formulado no contexto da crise global e de suas repercussões no Brasil e da evolução da economia nacional e local. Para que se tenha os pés no chão, evitando intenções abstratas; e para se vislumbre as janelas de oportunidades postas no cenário atual.

Com os professores em campanha salarial, a tentativa de levá-los a considerar dentre as muitas variáveis que conformavam a correlação de forças na qual pugnavam pelos objetivos postos na pauta de reivindicações do Sindicato, certas influências do que as passava no Brasil e no mundo.

Pois bem. Fizera uma intervenção abrangente, embora concisa, mencionando fatos e tendências marcantes da situação internacional e nacional antes de desembocar no quadro político da província, para em seguida debatermos o tema com os presentes. O primeiro a se inscrever foi claro: “Deputado, sobre essa teoria toda eu não vou falar, quero apenas dar a minha opinião sobre a luta de nossa categoria”. Ou seja, para ele, tudo o que havia dito sobre o mundo e o Brasil não passava de “teoria”, algo distante da peleja em que estava envolvido com seus colegas.

Lembro que tentei convencê-lo da necessidade de um descortino mais amplo. Argumentei que desde o fim do Século 19, quando o capitalismo atingiu o estágio superior dos monopólios e o mundo se viu totalmente dividido em áreas de influência das grandes potências, já não se pôde falar em economias nacionais autônomas, dissociadas da cadeia de dominação em que se convertera o sistema capitalista. E que a partir daí, a realidade de cada país e, por extensão de cada lugar, sofreria a influência direta ou indireta dos acontecimentos em plano mundial. E, portanto, teríamos que considerar esse dado na dimensão política das possibilidades de alcançar os nossos objetivos em nossas lutas, mesmo quando setoriais ou localizadas.

Se o convenci, não lembro. Talvez se voltássemos a conversar hoje, passados mais de vinte anos, o professor “particularista” me compreenderia melhor. Afinal, o mundo globalizado como agora se apresenta está ao alcance da percepção de muitos. Mais ainda quando o Brasil assume papel de destaque na cena global, liderando a busca da integração solidária dos países do subcontinente sul-americano.

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