26 agosto 2011

As ameçadas e os pecados da mesa

Dois vilões à espreita
Luciano Siqueira

Para o Jornal da Besta Fubana

Viver é arriscoso, ensina Riobaldo em Grandes Sertões: Veredas. E agora fico sabendo que definitivamente fica decretado: tanto faz açúcar como sal, sentar à mesa é correr risco de vida. Porque essas duas substâncias que nos dão prazer não passam de vilãs à espreita, prontas a atacar na primeira refeição do dia.

O sal todo mundo sabe que contribui para dar “alma” ao que comemos, como diz o sábio Epaminondas, e faz um mal danado. Hipertensão na certa: agora ou em futuro próximo. O professor Nilton de Souza, do curso médico da Universidade Federal de Pernambuco, costumava dizer que devia ser proibido saleiro em restaurante; e em nossas inocentes mesas domésticas, claro.

Mas agora vem a notícia de que o açúcar também provoca hipertensão. Cientistas ingleses e americanos dedicados ao assunto afirmam que quem ingerir mais do que 355 ml de sucos ou outras bebidas adoçados ou carbonatadas por dia entra na zona de risco. O tônus dos vasos sanguíneos pode se romper e alterar o nível de sal do organismo – e, como consequência, a pressão sanguínea também se desequilibra, elevando-se.

O jeito é optar por bebidas dietéticas ou sem açúcar, dizem os autores da pesquisa. O risco seria quase nulo.

Bom que se esclareçam os fatos. Quanto mais se saiba sobre como atuam em nosso organismo as coisas que a gente engole, por prazer ou necessidade, melhor. Mas tem um risco, digamos, psicológico - ou espiritual. Se você leva a sério todas as ameaças à mesa, desistimos de comer. E de viver.

Tudo na vida requer um equilíbrio. Alimentação balanceada faz bem, claro. Mas o prazer de ingerir o que a gente gosta, idem. Questão de bem viver e de cultura.

Imagine a mesa do brasileiro privada do melhor de nossa culinária, produto mesclado por traços portugueses, indígenas, africanos, árabes, japoneses e quejandos. Nem pensar.

Festa de São João sem canjica, pamonha, pé de moleque e outras guloseimas não teria a menor graça. Sem falar daquela feijoada que uma vez por ano amigos, parentes e agregados consomem regada à caipirinha na entrada e muita cerveja gelada durante e depois.

Há coisas que, mesmo arriscosas, não se deve interditar ao nosso paladar. Como diria o flanelinha que, certa vez, nos idos tempos da ditadura militar, ouvia o noticiário através de rádio de uma barraca do lado de fora do Mercado São José, no Recife, e diante da informação de que o Papa (não me lembro qual, à época) recomendara não usar camisinha e proibia sexo fora do casamento, sapecou: “Esse Papa é de lascar, que proibir o bem-bom! Só falta dizer que sarapatel com cachaça é pecado!”

Pode até ser pecado. Por isso – como diria o poeta – dá um prazer que não tem tamanho!

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