EUA e Europa entre a fantasia e a realidade
Luciano Siqueira
Publicado no Blog da Revista Algomais
A segunda-feira se inicia com o patético noticiário em torno da crise global, que corrói as economias dos EUA e da Europa. Dirigentes dos países centrais realizam verdadeira cruzada do faz-de-conta no intuito de “acalmar” os mercados diante da iminência da queda generalizada das principais bolsas mundo afora.
Não é pouco. Informam as agências noticiosas que “líderes do G20 (países mais ricos e principais economias emergentes), do G7 (países mais ricos do mundo) e governadores do Banco Central Europeu multiplicaram os contatos e reuniões por telefone para delinear uma resposta comum ao nervosismo criado pelas incertezas ligadas à dívida norte-americana e à crise na zona do euro”.
Parece um caso do doente na UTI, em fase terminal, em que o médico (de modo inconsequente) procura animar familiares fazendo-os crer que o pior vai passar – sabendo que a realidade é bem diversa.
O sistema capitalista ainda não está na UTI. Mas está perto. Ou, melhor dizendo, é alvo de cuidados intensivos, chega a respirar por aparelhos em alguns momentos, mas dispõe de energia e capacidade de manobra para prolongar a agonia, com melhoras pontuais, porém envolto em enfermidade sistêmica grave.
Neste exato momento, vejo aqui na Internet – numa espécie de conferência dos sinais vitais do paciente -, que sobrevêm a febre e a taquicardia: a bolsa de Tel Aviv já abriu em queda de 6%, mesma tendência das bolsas do Golfo Pérsico.
A “família” do grande capital se mostra aterrorizada desde que a agência de classificação de risco Standard & Poor’s avaliou por baixo a nota de crédito da dívida norte-americana, mudando de AAA para AA+, em razão das incertezas políticas relativas ao montante da dívida dos Estados Unidos que, hoje, ultrapassa US$ 14,5 trilhões.
Na verdade, assistimos agora – ainda usando a linguagem médica – nova intercorrência num quadro clínico complexo instalado desde 2008, que mergulhou o sistema numa profunda crise econômica e financeira, pior do que a Grande Depressão de 1929.
O momento é de agravamento geral da crise, impulsionada pelo estratosférico montante das dívidas dos Estados Unidos e da União Europeia, que aponta para consequências extremamente danosas, tais como o esgarçamento incontrolável do dólar como moeda padrão, o acirramento da guerra cambial, o recrudescimento, em patamar mais elevado ainda, do protecionismo comercial.
E, como diz a sabedoria popular brasileira, em casa em que falta o pão, todos brigam e ninguém tem razão.
Pior: no desespero e em mar revolto, todas as grandes economias optam por cortes orçamentários, redução de custos da produção, precarização de direitos – jogando o ônus da crise sobre as costas dos trabalhadores.
Até quando?
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