12 maio 2012

Uma crônica para relaxar

Sensores abelhudos e indiscretos
Luciano Siqueira

Publicado no Jornal da Besta Fubana

É a nanotecnologia a serviço do bem estar da gente – ou, pelo menos, do controle da saúde de quem não anda tão bem assim. Cientistas da Universidade de Arkansas (EUA) criaram um conjunto de sensores têxteis em nanoestruturas que, colados ao corpo do indivíduo, transmite informações em tempo real ao médico (ou hospital, se for o caso).

É comunicação em altíssimo nível. A partir de um módulo leve e sem fio, os sensores se interligam a um software que recepciona os dados dentro de um smartphone, os compacta e os envia a uma variedade de redes sem fios. Onde o paciente estiver – aqui, na China ou no interior da Amazonia.

Assim, a pressão sanguínea, o ritmo respiratório, o consumo de oxigênio, a temperatura do corpo, algumas atividades neurais e todas as leituras que se obtêm com o eletrocardiograma convencional, inclusive a capacidade de mostrar as ondas T invertidas (denunciando o início de uma parada cardíaca), tudo isso e mais alguma coisa, entra na tela do “radar”.

Acontece que esses sinais vitais podem se alterar sob o impacto de um sem número de atividades – das mais cândidas às, digamos, calientes. O que pode gerar inquietação e dúvida no cliente, quando convidado a aderir a esse tipo de monitoramento. A privacidade do dito cujo (ou da dita cuja) estará ameaçada.

Certa vez, ainda estudante de medicina, fui solicitado a esclarecer um caso de certo modo intrigante de um jovem que, embora clinicamente curado de uma hepatite, não recebera alta médica porque nos exames laboratoriais os níveis das trasaminases (enzimas referenciadas em lesões hepáticas) não baixavam. E o cara jurava honrar o repouso absoluto prescrito pelo seu médico.

Mas, numa anaminese detalhada, onde lhe pedi que reconstituisse o seu dia a dia, fiquei sabendo que o jovem repousava sim, o dia todo, mas ao anoitecer recebia a namorada para inocente coloquiuo sob o pé de jambo no quintal de sua residência! Estivesse ele com um desses sensores colado ao corpo logo se veria que o repouso não era tão absoluto assim…

Então, que se popularize o bom uso da engenhoca, deixando-se entretanto o paciente à vontade para desligá-la ou não durante certas atividades, digamos lúdicas, para que o smartphone não registre que, para além de uma efermidade eventual, há sempre a  atração irresistível do amor e a força incontrolável da volúpia.

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