Luciano Siqueira
Publicado no portal Vermelho e no Blog de Jamildo 9Jornal do Commercio Online)
Questionam tudo: da suposta dificuldade de formulação dos
quesitos à primazia do Congresso Nacional no encaminhamento da matéria. Como se
fosse impossível ouvir a população sobre a essência da reforma e essa consulta
só fosse viável e correta após o próprio Congresso deliberar sobre a matéria.
Ora, há anos o tema tramita nas duas Casas legislativas,
objeto de inúmeros projetos de Lei, trabalhados por Comissões Especiais
pródigas em relatórios alentados – alguns, dois mais recentes, a cargo dos
deputados Ronaldo Caiado (DEM) e Henrique Fontana (PT), de conteúdo avançado. Mas
sempre esbarra em impasses gerados pela resistência das representações mais
conservadoras.
Tudo a ver com a atual condenação do plebiscito. Precisamente
porque esse tipo de consulta poderia sintetizar o caráter democrático da
reforma em dois pontos capitais: financiamento público ou privado de campanha;
e sistema eleitoral, ou seja, o modo de eleger parlamentares, se pelo atual
sistema proporcional, de voto unipessoal, ou não.
Dessas duas questões decorrem muitas outras, não
necessariamente consignadas como quesitos do plebiscito, tais como a manutenção
da reeleição para cargos executivos, tempo de duração dos mandatos,
coincidência de eleições em todos os níveis de representação, voto em lista
pré-definidas, coligações proporcionais, etc.
A adoção do financiamento público de campanha cortaria pela
raiz uma das principais causas da corrupção no País, motivo de relações
promíscuas entre dententores de mandatos e grupos econômicos que os financiam.
A maioria resiste, embora prefira tergiversar sobre o assunto.
Da mesma forma, a eleição de parlamentares através de listas
pré-ordenadas contribuiria em muito para o fortalecimento dos partidos, outra
unanimidade “da boca pra fora”: todos se queixam da fragilidade do atual
espectro partidário – com poucas exceções -, mas insistem na manutenção do
sistema que induz o eleitor a escolher candidatos individualmente, obscurecendo
a opção por propostas programáticas – e, portanto, enfraquecendo os partidos.
O pronunciamento popular via plebiscito estabeleceria parâmetros
a serem considerados pelos deputados e senadores na formulação do conteúdo da
reforma. Nada mais consentâneo com o clima atual que se manifesta com tanto
vigor nas ruas.
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