07 dezembro 2013

Modelo social machista e patriarcal


Violência de gênero e a Aids
Jandira Feghali, no Vermelho

 

Do tapa no rosto ao sexo desprotegido, são vários os contrastes que diferenciam a violência de gênero. A mulher brasileira que é vítima da violência doméstica ou da relação íntima forçada, com parceiro fixo ou não, é a mesma mulher que engrossa as inadmissíveis estatísticas sobre agressão produzidas por um modelo social machista e patriarcal.

Desde 2006, quando fui relatora da Lei Maria da Penha, ficava evidente que as vítimas tinham relação direta na contaminação por HIV. Uma relação de medo gera na mulher incapacidade de negociar sexo seguro ou de recusá-lo, correspondendo à alta incidência do vírus da AIDS entre elas.

Sob este ponto de vista, a agência da Organização das Nações Unidas na América Latina já sinaliza que mulheres jovens são particularmente vulneráveis ao sexo forçado e cada vez mais infectadas com a doença. Mais da metade das novas infecções por HIV em todo o mundo ocorrem entre os jovens de 15 a 24 anos, e mais de 60% dos jovens infectados com o vírus nessa faixa etária são, lamentavelmente, mulheres.

Essa é uma das muitas faces da triste realidade de violência contra a mulher que se reproduz em diferentes escalas no nosso país e, sem dúvida, em nossa própria federação. No Rio de Janeiro, o alerta vermelho já fora dado há tempos, desde a divulgação do último Dossiê Mulher elaborado pela Secretaria Estadual de Segurança. Cresce a violência de gênero em cidades do interior, ferindo, mutilando e ceifando vidas.

Os municípios distantes da Região Metropolitana lideram as estatísticas de ameaça à mulher. São 1.150 casos na cidade de Campos, no Norte Fluminense, seguida de 1.019 casos em Volta Redonda, no Sul Fluminense e Petrópolis, na Região Serrana, com 926 vítimas.

No combate a este mal, desembarcará em 2014 na área serrana a campanha nacional “Mulher, viver sem violência”. A proposta da ministra Eleonora Menicucci, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, dada a partir de nosso pedido e da coordenadora do Centro de Referência e Atendimento à Mulher de Petrópolis, Drica Madeira, é estabelecer atendimento e educação para as cidadãs da região onde ainda não há equipamentos jurídicos e de saúde suficientes para o devido enfrentamento à violência doméstica e sexual. É um universo de meio milhão de habitantes.

Além dessa movimentação, é urgente que campanhas de saúde cheguem à população na Atenção Básica e nos médicos de família, orientando sob a ótica da prevenção e diagnóstico. Seja pelo Ministério da Sade, seja pelas prefeituras. Quando se diagnostica um imenso desafio como este, é preciso a união de forças, com a presença forte do Sistema Público de Sade. E, claro, mais recursos para o fortalecimento do SUS, para o pleno funcionamento dos postos de saúde, agentes comunitários e demais profissionais da área.

Nosso rumo sempre tomará a direção de uma cultura de paz, sem violência, truculência ou covardia contra qualquer segmento de nossa sociedade ou desrespeito aos direitos humanos. São desafios apresentados à nossa história e trajetória.

“Armas no chão
Flores nas mãos
Mas se o bom de viver
É estar vivo
Ter amor, ter abrigo
Vivendo em paz
(Herbert Vianna)

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