Embrapa desenvolve cana tolerante à seca
Pesquisa
desenvolvida pela Embrapa utiliza estratégias para obter nova variedade
transgênica, afim de minimizar impacto da estiagem
Para minimizar
o impacto da menor disponibilidade hídrica na produção de cana-de-açúcar, a
Embrapa Agroenergia está utilizando estratégias de engenharia genética para
obter uma variedade geneticamente modificada tolerante à seca. O longo e
severo período de estiagem pelo qual passou a região Centro-Sul do Brasil
afetou muito a área rural. Houve quebra de safra em várias culturas, entre elas
a cana-de-açúcar, matéria-prima para o principal biocombustível produzido e
consumido no Brasil – o etanol.
A necessidade
de água nas lavouras é tanta que a agricultura é responsável por cerca de 70%
do consumo de recurso natural. O pesquisador que coordena o trabalho, Hugo
Bruno Correa Molinari, explica que a tolerância à seca é, se não a primeira, a
segunda característica de maior importância para cana. "O setor
sucroenergético precisa de variedades mais tolerantes à seca, até porque as
novas áreas de expansão da cultura têm problemas de estiagem prolongada ou
chuvas irregulares", comenta.
O problema é
que tolerância à seca é uma característica complexa de ser trabalhada em
plantas, uma vez que envolve grande número de genes e mecanismos fisiológicos.
Tanto é que,
atualmente, no mundo todo, só estão disponíveis para os agricultores duas
variedades transgênicas de culturas agrícolas tolerantes à seca: uma de milho,
desenvolvida pela Monsanto, e outra de cana, disponível na Indonésia, por meio
de uma parceria entre a PT Perkebunan Nusantara XI, a Universidade de Jember e
a Ajinomoto.
Infraestrutura
- A
pesquisa já passou por testes em laboratório e casa de vegetação. Para os
experimentos em campo, a Embrapa Agroenergia conta com o Centro de Tecnologia
Canavieira (CTC). Em janeiro deste ano, os dez materiais mais promissores foram
plantados em Piracicaba (SP), em área do CTC, para multiplicação.
Agora, estão
sendo solicitadas autorizações da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança
(CTNBio) para realizar testes em dois campos experimentais: um na região
Centro-Oeste e outro na região Sul.
A pesquisa
começou em 2008 e tem como parceiro o Centro Internacional de Pesquisas para
Ciências Agrárias do Japão (Japan Internacional Research Center for
Agricultural Sciences - JIRCAS), instituição que detém a patente do gene
utilizado na transformação genética de cana.
Internacional
- A
revista Nature Biotechnology listou recentemente outros oito projetos de
pesquisa em fase avançada de desenvolvimento com esse objetivo, entre eles o da
Embrapa em parceria com o Jircas, que inclui a transformação genética de outras
culturas além da cana.
Justamente por
causa da complexidade da tolerância à seca, os pesquisadores da Embrapa
utilizam um gene que codifica proteínas reguladoras de diversos outros genes.
"Como é
muito complexo, eu tenho que ativar vários mecanismos que façam a plantar
utilizar mais eficientemente o recurso água", detalha Molinari. Por isso,
a equipe utiliza a estratégia de engenharia genética de trabalhar com um
"gene que controla outros genes".
Análise - As avaliações
em caso de vegetação indicam que os materiais transformados não só ganharam
tolerância à seca, mas também apresentaram aumento no teor de sacarose e da
taxa de brotação, além de resistência a herbicida.
No entanto,
ainda são necessários os testes em condições reais de campo, previstos para
começar em 2016, para que os pesquisadores possam comprovar os resultados.
Na Embrapa
Agroenergia, há ainda duas outras linhas de pesquisa de engenharia genética com
cana-de-açúcar: uma para aumento de conteúdo de biomassa e outra para
modificação da parede celular. Esta última visa a facilitar o acesso aos
açúcares do bagaço e palha, o que favoreceria a produção de etanol celulósico
(2G) e outros produtos de alto valor agregado.
Fonte: Portal Brasil
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