Dilma, o PT e aliados diante de ingente desafio
Luciano Siqueira
A História registra,
mundo afora, o quanto é difícil a uma corrente de esquerda chegar ao poder
central de um país imenso e complexo como o Brasil; e o quanto mais difícil
ainda é avançar nas transformações a que se propõe.
É o que ocorre com o
Partido dos Trabalhadores, que comemora seus trinta e cinco anos de existência
cotejando imensos êxitos e diante do maior desafio de sua breve trajetória:
preservar as conquistas alcançadas através de três governos nacionais
consecutivos e dar passos largos adiante, no quarto governo, em ambiente de retração
econômica e ameaçadora instabilidade política.
As dificuldades na
esfera da economia são compreensíveis a quem examine a situação com largueza e
um mínimo de isenção, situando o Brasil no contexto da crise econômica e financeira
global, que afeta indistintamente todas as economias nacionais.
A oposição partidária e
midiática, em seu tiroteio “analítico”, prima por olhar o Brasil em si mesmo,
qual uma ilha protegida numa imaginária redoma. O que for negativo aqui o será,
sempre e invariavelmente, por culpa exclusiva da presidenta Dilma e do seu partido,
o PT (sic).
Na esfera política, nem
tanto: a confusão e a instabilidade se dão em boa medida por erros sim, do PT,
da presidenta Dilma e do líder maior o ex-presidente Lula.
Por que?
Porque problemas
políticos se enfrentam fazendo política, ainda que seja correto dizer que a
política é a economia por outros meios.
A política cobra caro de
quem a subestima – inclusive de governantes bem sucedidos. Pois não basta
acumular crescimento econômico conjuntural, avanços sociais e afirmar a soberania
nacional, alargar a participação popular em instâncias institucionais. Não bastaria
sequer muito mais do que isso, em bases mais sólidas e duradouras. Faltando o
fazer político, tudo corre o risco de desmoronar – sob a pressão reacionária
dos que desejam o retrocesso.
Esse filme já vimos no
Brasil da segunda fase de Getúlio Vargas no governo central. E vimos, na forma
de tentativa golpista, entre o primeiro e o segundo governo Lula.
Getúlio não teve forças
nem tempo para arrostar a onda reacionária. Apelou ao gesto extremo de oferecer
a própria vida em testemunho histórico.
Lula reagiu, mobilizou
as forças coligadas, teve no então presidente da Câmara dos Deputados, Aldo
Rebelo (PCdoB-SP) firme, corajoso e hábil defensor da ordem institucional e
contou com a presença nas ruas do movimento social organizado, sobretudo pelas
centrais sindicais e pela UNE e pela UBES.
Além disso, negociou o
tempo todo com as forças reais em presença, gostasse ou não do perfil político
e ideológico delas.
Dilma inicia o segundo mês
do seu novo mandato sob cerco partidário e midiático, enredada numa correlação
de forças adversa e numa agenda negativa, sobretudo em função do ajuste fiscal.
Onde está a saída? Na política,
ora. Na boa política. Principalmente através da voz e do gesto da própria
presidenta e do ex-presidente Lula – na relação com o Congresso, com os setores
organizados da sociedade e com os movimentos sociais.
Há acúmulo para tanto, não
estão de mãos vazias. Há com que acenar à nação e ao povo em curto, médio e
longo prazo. E há base social e política sensível e capaz de se mobilizar.
Falta a atitude.
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