10 fevereiro 2015

Meu artigo no Blog da Folha

Dilma, o PT e aliados diante de ingente desafio

Luciano Siqueira

A História registra, mundo afora, o quanto é difícil a uma corrente de esquerda chegar ao poder central de um país imenso e complexo como o Brasil; e o quanto mais difícil ainda é avançar nas transformações a que se propõe.

É o que ocorre com o Partido dos Trabalhadores, que comemora seus trinta e cinco anos de existência cotejando imensos êxitos e diante do maior desafio de sua breve trajetória: preservar as conquistas alcançadas através de três governos nacionais consecutivos e dar passos largos adiante, no quarto governo, em ambiente de retração econômica e ameaçadora instabilidade política.

As dificuldades na esfera da economia são compreensíveis a quem examine a situação com largueza e um mínimo de isenção, situando o Brasil no contexto da crise econômica e financeira global, que afeta indistintamente todas as economias nacionais.

A oposição partidária e midiática, em seu tiroteio “analítico”, prima por olhar o Brasil em si mesmo, qual uma ilha protegida numa imaginária redoma. O que for negativo aqui o será, sempre e invariavelmente, por culpa exclusiva da presidenta Dilma e do seu partido, o PT (sic).

Na esfera política, nem tanto: a confusão e a instabilidade se dão em boa medida por erros sim, do PT, da presidenta Dilma e do líder maior o ex-presidente Lula.

Por que?

Porque problemas políticos se enfrentam fazendo política, ainda que seja correto dizer que a política é a economia por outros meios.

A política cobra caro de quem a subestima – inclusive de governantes bem sucedidos. Pois não basta acumular crescimento econômico conjuntural, avanços sociais e afirmar a soberania nacional, alargar a participação popular em instâncias institucionais. Não bastaria sequer muito mais do que isso, em bases mais sólidas e duradouras. Faltando o fazer político, tudo corre o risco de desmoronar – sob a pressão reacionária dos que desejam o retrocesso.

Esse filme já vimos no Brasil da segunda fase de Getúlio Vargas no governo central. E vimos, na forma de tentativa golpista, entre o primeiro e o segundo governo Lula.

Getúlio não teve forças nem tempo para arrostar a onda reacionária. Apelou ao gesto extremo de oferecer a própria vida em testemunho histórico.

Lula reagiu, mobilizou as forças coligadas, teve no então presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) firme, corajoso e hábil defensor da ordem institucional e contou com a presença nas ruas do movimento social organizado, sobretudo pelas centrais sindicais e pela UNE e pela UBES.
Além disso, negociou o tempo todo com as forças reais em presença, gostasse ou não do perfil político e ideológico delas.

Dilma inicia o segundo mês do seu novo mandato sob cerco partidário e midiático, enredada numa correlação de forças adversa e numa agenda negativa, sobretudo em função do ajuste fiscal.

Onde está a saída? Na política, ora. Na boa política. Principalmente através da voz e do gesto da própria presidenta e do ex-presidente Lula – na relação com o Congresso, com os setores organizados da sociedade e com os movimentos sociais.

Há acúmulo para tanto, não estão de mãos vazias. Há com que acenar à nação e ao povo em curto, médio e longo prazo. E há base social e política sensível e capaz de se mobilizar.

Falta a atitude.

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