20 fevereiro 2015

Uma crônica sobre amizade

O diálogo nosso de cada dia

Luciano Siqueira

Numa breve conversa pelo Wathsaap, mais uma dentre tantas que com alguma frequência mantemos:

- Tenho aprendido muito com você. 

- O aprendizado é mútuo, retruco.

- Mas você tem muito mais experiência e tudo o que digo ou faço não é inédito para você, muitas coisas são óbvias. 

- Não se trata de medir experiências vividas, tudo é uma questão de sintonia, assevero.

E é. 

A gente aprende sempre, desde que tenha olhos para ver e ouvidos para ouvir. E sensibilidade para compreender. 

Essa lição retive desde a adolescência e tem me inspirado por toda a vida. No curso médico me ajudou muito; na vida profissional, pessoal e familiar e na militância política, mais ainda.

O mais jovem aprende com o mais experiente e vice-versa. 

Às vezes é apenas um breve e fortuito diálogo, onde surgem "pistas" para a compreensão de algo que inquieta. 

Muitas vezes, o aprendizado é fruto da convivência - de muitos encontros e muitas realizações, como ensina Rilke. 

O poeta diria o mesmo até em relação às conversas pelas redes sociais de agora, creio. Pois pela web, quando a alma não é pequena, plasmam-se boas amizades. 

Então, amigo, não ponha nos pratos de uma balança quem mais "ensina" a quem, a comparação não faz sentido. O ser humano é uma obra nunca concluída, ninguém é pleno e completo. Completamo-nos uns aos outros via encontros e desencontros, convergências e discrepâncias, dúvidas e certezas...

O diálogo é o território da dúvida, da pergunta e da resposta inconclusa. Como nos contos de As Mil e Uma Noites, jamais termina, recomeça e se reinventa sempre como espelho fiel da vida verdadeira.

Assim como a ausência do diálogo, ou o diálogo contaminado pelo sectarismo e pela intolerância, conspiram contra a vida. 

"Se tu diferes de mim, tu me enriqueces", escreveu Dom Hélder.

Demais, se a memória por si mesma é criativa e o mesmo fato ou a mesma ideia ou o mesmo sentimento, passado algum tempo, se refazem diante dos nossos olhos, nunca haverá coisas tão óbvias que dispensem a troca de impressões; e tudo tem, mínimo que seja, um traço de ineditismo.

Então, sigamos nosso bom diálogo - pelas redes ou em torno de uma xícara de chá ou de um bom cappuccino no café da esquina. 

Publicado no Jornal da Besta Fubana

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