12 janeiro 2016

Crise e perspectivas

A reversão da crise está à vista

Luiz Carlos Bresser Pereira, na Folha de São Paulo
O ano de 2015 foi de crise; 2016 será a hora da reversão. A crise atual marca o fim do Ciclo Democracia e Justiça Social, que, desde 1980, nos deu estabilidade política e uma razoável diminuição das desigualdades econômicas. Foi um momento em que as classes sociais se juntaram, em que pobres e ricos, democratas e liberais, se associaram.
Esse quadro começou a mudar em 2013, quando a classe média tradicional, que deriva uma parte de seus rendimentos dos juros, aluguéis e dividendos, viu os pobres melhorarem de vida e os muito ricos se tornarem ainda mais ricos.
Sentindo-se esquecida, essa classe média voltou-se para a direita. Ao mesmo tempo, os economistas liberais colocavam em questão os avanços sociais da Constituição de 1988.
 Nas grandes manifestações de junho de 2013, os serviços de educação e saúde, que a classe média tradicional não usa, mas para os quais paga impostos, foram temas centrais. No coração da crise, assim, não está a luta dos trabalhadores para conquistar mais direitos, mas a de rentistas e de seus economistas ortodoxos para reduzi-los.
Trata-se de uma luta reacionária, que não oferece solução para os dois grandes problemas brasileiros: o da retomada do crescimento e o da diminuição das desigualdades.
Diante da recessão, o que eu vi foi uma comédia de erros. Os economistas liberais atribuíram a crise aos deficits fiscais "estruturais", não obstante o grande desequilíbrio fiscal só tenha ocorrido em 2014, e afirmaram que a Constituição de 1988 não cabe no PIB brasileiro. O argumento é pura ideologia, a não ser no caso da Previdência Social.
Os desenvolvimentistas opuseram-se ao ajuste fiscal, que é necessário, e explicaram a recessão por esse ajuste, o que faz pouco sentido, dado o mínimo ajustamento realizado. Estão certos, porém, em criticar o aumento das taxas de juros em plena recessão para combater uma inflação que é inercial e se acelerou por conta da correção de preços administrados.
Todos ignoraram que o problema fundamental da economia brasileira é o deficit em conta-corrente; o correspondente câmbio apreciado só se torna competitivo nas crises.
É essa desvantagem competitiva que vem causando desindustrialização e semiestagnação desde 1990. Além dela, a brutal queda dos preços das commodities, a paralisação dos investimentos da Petrobras e a perda de confiança explicam a recessão atual.
Mas não estou pessimista. O governo reconheceu seus erros, e a confiança voltará, como já voltaram as oportunidades de investimento. A previsão das consultorias econômicas –2,8% de queda do PIB em 2016– ignora que o mercado promoveu o ajuste fundamental, o equilíbrio competitivo que estimo ser R$ 3,80 por dólar.
Tanto assim que as boas notícias começam a aparecer. O superavit comercial de 2015 "surpreendeu" por ter sido elevado, e a participação dos manufaturados, 35,6% em 2014, subiu para 38,1% do total de exportações. As empresas industriais têm uma nova oportunidade de crescer e não a perderão.
E depois da recessão? Podemos pensar em um novo grande ciclo de desenvolvimento? Podemos reindustrializar e crescer 3% ao ano per capita, no lugar do 1% a que estamos reduzidos desde 1990? Podemos, assim, pacificar o país?
Isso é possível, mas só se materializará se o governo, além de fazer reformas, como a da Previdência, revelar-se capaz de discutir com a sociedade uma nova política que mantenha a taxa de câmbio real flutuando em torno do equilíbrio competitivo nos próximos anos.
*LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA,* 81, é professor emérito da Fundação Getulio Vargas. Foi ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado e da Ciência e Tecnologia (governo FHC)
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