Meio correto, meio equivocado
Luciano Siqueira, no portal Vermelho
No próximo domingo, 27, o PT fará atos de lançamento da
pré-candidatura de Lula à presidência da República em muitas cidades do país.
Na verdade, conforme se anuncia, manifestações
de duplo conteúdo: um grito pela liberdade do ex-presidente, vítima de
perseguição, condenado e preso sem provas; e a reafirmação de sua predisposição
a disputar o pleito presidencial.
A luta pela liberdade de Lula é
bandeira ampla, justa e oportuna, erguida pelo conjunto das forças de esquerda
e extensos segmentos democráticos.
A pré-candidatura de Lula é um desejo
legítimo do ex-presidente e do seu partido. Nenhuma força política consequente
a esse intuito se opõe.
Mas o cenário é muito mais complexo do
que poderia parecer a uma apreciação superficial.
No meio do caminho há acirrado
entrechoque de forças, pondo em lados opostos golpistas de vários matizes
versus correntes democráticas que se apuseram ao golpe e agora agregam setores
que participaram do impeachment da presidenta Dilma, mas hoje se postam em
oposição ao governo Temer.
Um tremendo poço de areia movediça.
Nada simples, nem seguro; tudo arriscado.
Considerando-se a atual composição do
Congresso Nacional, o poderio do complexo midiático, a parcialidade e a
militância ativa do Judiciário e do aparato policial, o campo golpista ainda
reúne mais força do que a oposição, ainda que temporariamente disperso em torno
de várias pré-candidaturas presidenciais.
Na oposição, falta convergência de
pensamento e de ação, indispensável à exploração das contradições no campo
adversário e — sobretudo — à conquista de uma maioria eleitoral.
Entre os blocos litigantes, há a imensa
maioria do povo eleitor, ainda atônito e carente de perspectiva, que pode se
inclinar para um lado ou para o outro.
Nesse contexto, não confundir o
sentimento de solidariedade a Lula e a sua supremacia em intenção de votos nas
pesquisas com força real e suficiente para vencer as eleições.
As quatro vitórias sucessivas
alcançadas pelo próprio Lula e por Dilma se viabilizaram através de frentes
amplas e diversificadas. Desde o primeiro turno.
Agora, com um PT chamuscado e só, a
pretensa apresentação de uma chapa “puro sangue”, formada por Lula e Haddad ou
Amorim de vice, não sinaliza para uma composição ampla; antes passa a mensagem
de que o PT resolve cuidar de si mesmo, pondo a segundo plano a busca de uma
frente ampla politicamente consistente e eleitoralmente viável e, por
conseguinte, priorizando o objetivo particular de eleger seus parlamentares, em
detrimento dos destinos da nação..
Lula merece a solidariedade de todas as
forças democráticas. Mas a senda isolada do PT não pode contar com a simpatia
dessas forças, nem conquistará a maioria eleitoralmente necessária.
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