05 setembro 2018

As voltas que a vida dá

A política do jeito que a vida é
Luciano Siqueira


Encontro casual no ‘Brasiliano’, no Recife Antigo:

— Olá, Dr. Luciano! Quanto tempo! O senhor é candidato?

— Olá, prazer em revê-lo. Sou candidato não, participo da campanha como militante.

— Então me explique esse troca-troca de uns que eram de um lado passarem pra outro e dos que estavam juntos e agora estão do contra…

— Nada estranho, sempre aconteceu. A política é assim.

— Mas eu não entendo como amigos viram inimigos e inimigos viram amigos em tão pouco tempo.

— O povo não diz que o mundo dá muitas voltas?

— Mas fica difícil de compreender.

— Nem tanto. Cada  eleição tem uma ‘pauta’, as pessoas e os partidos tomam posição sobre os assuntos dessa pauta, que às vezes são diferentes dos assuntos da eleição anterior. Então concordâncias viram discordâncias e vice-versa.

— Quem decide essa pauta?

— A vida é que muda a pauta. E as pessoas podem mudar de opinião. Aqui e em qualquer lugar do mundo.

— Mas não fica uma mistura muito esquisita?

— Esquisita, não. As pessoas e os partidos se juntam por objetivos comuns, mesmo que sejam de curto prazo. A coerência está aí.

— Pra mim ainda é uma coisa muito confusa. E por que demoram tanto a se entender?

— Pior é reunião de condomínio, as pessoas dificilmente se entendem, não é mesmo?

— Humm... é verdade.

A essa altura, nossos pratos feitos e nos dirigindo a diferentes mesas, tentei arrematar:

— Pois é isso amigo, a política é a face institucional da vida como ela é; e na vida as coisas nunca acontecem em linha reta. No meio do caminho muita coisa muda.

— Acontece... outro dia a gente conversa mais, tá?

— Será um prazer.

*

Em minha experiência militante, não há situação que o povo não compreenda, por mais complexa e até surpreendente que seja. Mas é preciso debater pacientemente.

Ruim é quando candidatos de campos opostos fazem de conta que mudar de opinião necessariamente significa incoerência e cobram uns dos outros por isso. Pior: quem muda para o nosso lado, vale; quem muda para o lado oposto deve ser execrado.

No confronto entre candidaturas para cargos majoritários (presidência da República e governos estaduais, sobretudo), o debate deve se concentrar nas questões essenciais, programáticas e mais sensíveis à percepção do eleitor. Para estimular o voto consciente. O simples bate boca leva a nada.

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